sexta-feira, 30 de abril de 2010

DOIS EXCERTOS DE ODES (FINS DE DUAS ODES, NATURALMENTE), DE FERNANDO PESSOA, SOB A PERSONA ÁLVARO DE CAMPOS

Vem, Noite antiquíssima e idêntica.
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faz da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe,
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossível de percorrer.

Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.

Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo,
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.

Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados.
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes.
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde – quem sabe? – Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...

Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!

Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.

Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente com um gesto materno afagando.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,

A lua começa a ser real.


II

Ah, o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades

E a mão de mistério que abafa o bulício,
E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe
Para uma sensação exacta e precisa e activa da Vida!
Cada rua é um canal de uma Veneza de tédios
E que misterioso o fundo unânime das ruas,
Das ruas ao cair da noite, ó Cesário&Verde, ó Mestre,
Ó do «Sentimento&de&um&Ocidental»!

Que inquietação profunda, que desejo de outras coisas,
Que nem são países, nem momentos, nem vidas,
Que desejo talvez de outros modos de estados de alma
Humedece interiormente o instante lento e longínquo!

Um horror sonâmbulo entre luzes que se acendem,
Um pavor terno e líquido, encostado às esquinas
Como um mendigo de sensações impossíveis
Que não sabe quem lhas possa dar...

Quando eu morrer,
Quando me for, ignobilmente, como toda a gente,
Por aquele caminho cuja ideia se não pode encarar de frente,
Por aquela porta a que, se pudéssemos assomar, não assomaríamos,
Para aquele porto que o capitão do Navio não conhece,
Seja por esta hora condigna dos tédios que tive,
Por este hora mística e espiritual e antiquíssima,
Por esta hora em que talvez, há muito mais tempo do que parece,
Platão sonhando viu a ideia de Deus
Esculpir corpo e existência nitidamente plausível
Dentro do seu pensamento exteriorizado como um campo.

Seja por esta hora que me leveis a enterrar,
Por esta hora que eu não sei como viver,
Em que não sei que sensações ter ou fingir que tenho,
Por esta hora cuja misericórdia é torturada e excessiva,
Cujas sombras vêm de qualquer outra coisa que não as coisas,
Cuja passagem não roça vestes no chão da Vida Sensível
Nem deixa perfume nos caminhos do Olhar.

Cruza as mãos sobre o joelho, ó companheira que eu não tenho nem quero ter.
Cruza as mãos sobre o joelho e olha-me em silêncio
A esta hora em que eu não posso ver que tu me olhas,
Olha-me em silêncio e em segredo e pergunto a ti própria
– Tu que me conheces – quem eu sou...


30/06/1914 (publicado na Revista de Portugal, nº 4, Julho de 1938)

RONALDO MONTE, O POEMA DA LUA

Existem muitos poemas dedicados à lua. Não há poeta, creio, que já não tenha cometido ao menos um verso comovente para a lua. Desconfio que até os uivos dos lobos e cachorros sejam poemas dedicados à lua cheia.

É angustiante acompanhar a espera da noite por Álvaro de Campos, (talvez o mais fértil da legião que habita Fernando Pessoa), no poema “Dois excertos de odes”. Toda a angústia, nossa e do poeta, se acaba quando “no alto céu ainda claramente azul (...) a lua começa a ser real.”

Como ao poeta, a lua cheia sempre nos pega de surpresa. Não há quem não se espante ao vê-la, de repente, começando a ser real. Foi semelhante espanto, certamente, que minha neta sentiu na última lua cheia. E foi tanto espanto, que ela o quis repartir com sua mãe. Do alto dos seus dois anos e meio, levantou as mãos para apanhar a lua. Com a lua nas mãos, voltou-se para a mãe e lhe deu a lua de presente.

Sem saber de metáforas ou metonímicas, a menina fez a lua ser mais real em suas mãos do que era real solta no céu. Ela transformou a lua em presente e a deu de presente a quem mais amava.

Naquele momento, pelas mãos da menina, foi composto o mais belo poema que a lua cheia possa merecer.



Ilustração: Veruschka Guerra

Postado por Ronaldo Monte





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MARY VILLASBOAS, ARTISTA

Prof querido,
Só mesmo alguém chiquérrimo amealha gravatas, que nunca usa, mas servem, muitas vezes, de cinto para seus roupões, rs!
Ao ler seu belíssimo e hilário relato, me deliciei e pude imaginar cada cena do mesmo. Você supera o Manoel Carlos, descrevendo detalhadamente cada detalhe. Sua expressão linguística me fascina, rs!
Beijos Latufílicos,
Mary

Raros são os Mestres que cativam seus alunos e brincam com a arte de ensinar.
Você "Latusuper" faz isso com doce e plena maestria. Por isso, mesmo sem o tempo necessário para irmos pessoalmente a seu encontro, nos fazemos "discípulos" e não conseguimos mais desgrudar de você. Quero continuar para sempre fazer parte de sua legião, para além dos alunos, há que contar com os inúmeros fãs e seguidores que o acompanha.
Saudade de te ouvir poetizando suas aulas e encontros.
Beijo grande,
Mary

quarta-feira, 28 de abril de 2010

NELI NEVES, DEPOIS DE SUA AULA MAGISTRAL

Querido professor,
Compreendo porque é tão amado. Além do seu conhecimento, brilho, humor, é também uma pessoa muito generosa.
Eu lhe agradeço ter me tratado com ela.
Um abraço,
Neli

DAVI ANDRADE PIMENTEL DIXIT

Latuf,

que e-mail lindo!!!
É muito gratificante saber que o meu empenho é admirado e admirável por um ser tão especial quanto vc, um ser das outras estruturas, um ser escritura por excelência, pois, subvertendo a maioria dos conceitos estruturais acadêmicos, vc nos apresenta uma forma inaugural de dar aulas: de uma forma livre, porém "normatizada" (o que não desmerece a liberdade, ao contrário, a ratifica mais e mais), e deliberadamente apaixonada.
Grato eu estou por partilhar de suas aulas inaugurais, aulas deliciosamente sorvíveis.

grande abraço,

Davi

O LÍBANO EM NOSSOS CORAÇÕES

Agora, tenho a certeza de que o melhor da festa é esperar por ela. Quando recebi o convite para estar no coquetel que o presidente do Líbano, General Michel Sleiman, ofereceria à comunidade libanesa no Rio de Janeiro, senti-me o mais honrado dos mortais. Minha primeira reação foi comunicar à minha família toda, onde sou considerado o mais libanês dos Mucci; informei, também, aos amigos mais chegados, que compartilhariam comigo tamanha honradez. O problema todo era a quetão do traje, porque o convite reza "traje passeio completo" e eu tive que consultar várias pessoas para saber do que se tratava. Alguns me disseram que era questão de terno e, aí, quase entrei em pânico, chegando mesmo a pensar em desistir de `comparecer à recepção presidencial. Busquei, no meu inflado guarda-roupas, o tal "terno escuro"; nada encontrei. Falaram-me em alugar um e eu optei pelos brechós. Vesti o primeiro que vi e, hoje, ele faz parte do armário de meu filho, que, envergando aquele linho todo, ficou ainda mais elegante. Perguntei ao Juan Arias o que seria "traje passeio completo" e ele me orientou, dizendo que, no Brasil, país tropical, pode ser um bleizer escuro com calça social, também escura. Voltei animadíssimo ao meu opulento guarda-roupas, onde separei vários bleizeres. Expus camisas, gravatas e bleizeres, fazendo de Maria, a moça que trabalha aqui em casa há décadas, e ela, depois de me ter perguntado se o evento seria de dia ou de noite, pontificou: este bleizer risca-de-giz com calça preta Christian Dior, uma camisa de tom berinjela para combinar com o botão do bleizer. Adorei a observação, que segui à risca. Amealhei gravatas, que nunca uso, mas que servem, muitas vezes, de cinto para os meus roupões, e fui, com alma e bagagem, para a casa da Cláudia em Copacabana. Era a primeira vez que eu visitava seu novo lar, que me encantou pelo requinte da decoração. Sérgio, seu marido, decidiu a gravata: de seda, vermelha, italianíssima. Eu estava pronto. Montado para ver o presidente do meu Líbano. Na manhã do domingo, em que ocorreria a recepção, recebi um telefonema de minha irmã Martha, avisando que, no canal Canção Nova, se transmitia a missa, em rito maronita, na Igreja Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo, com a presença do casal presidencial. Telefonei a todos da família maronita e fiquei embevecido diante de tanta pompa. É realmente suntuosa a liturgia maronita, cheia de mitras e brilhos. Fiquei observando o Sr. e a Sra. Seilman, e até pude ver lágrimas correndo pela face da primeira dama, quando recebeu uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Certamente que ela pensava em seu longínquo Líbano, tão necessitado de paz. Às 19hs daquele domingo de tantas emoções, estava eu, levado por Sérgio e Cláudia, nos portões do Clube Monte Líbano, local do coquetel, já lotado de damas em traje de noite e cavaleiros de terno, de bleizer, de bleizer branco, de sapato branco, sem gravata. Havia uma certa carnavalização brasileira no ar. Na entrada do clube, não me pediram o convite, apenas tive, como todo mundo, que passar pelo detetor de metais. Era uma multidão à espera do presidente do Líbano e eu era apenas mais um no meio daquela multidão, que falava árabe, francês, árabe misturado com francês, como sói acontecer na classe média libanesa, e o vernáculo. Eu reparava os semblantes e todos me pareciam familiares; vi até uma libanesa que se parece com minha cunhada Carlota, de origem portuguesa. Com quase uma hora de atraso, despontou o casal presidencial, ovacionado. Ouvimos o hino nacional do Líbano, que me emociou, apesar de não compreender as palavras cantadas, mas por pensar intensamente em meu pai, que estaria orgulhoso de mim, como representante da família; o hino nacional brasileiro foi cantado com plenas vozes. O presidente tomou da palavra, iniciando com um "boa noite", em bom português, e proferiu um discurso formal, em árabe, traduzido num telão. O coquetel era muito farto e, sobretudo, brasileiro, oferecendo de árabe alguns quitutes, como quibe e esfiha. Feito o discurso, o casal postou-se para o beija-mão. Enfretei uma longa fila e lá fui eu dizer meu nome e, em francês, o origem de minha família. Mais formal, de ambos os lados, impossível. Eu queria uma foto com o presidente, mas, na hora "h", não vi nenhum fotógrafo. Soube, depois, que Habibi, meu amigo de "orkut", me flagrara apertando a mão presidencial. Verei depois. Tendo estado face-a-face com o presidente do Líbano, só me restou romper na multidão para fazer caminho até à portaria, onde me esperavam Cláudia e Sérgio, meus reais anfitriões. Levo comigo a imagem, que ficou, o tempo todo, exibida no telão: duas mãos, formando um coração, no qual estava inscrita a frase: "O Líbano em nossos corações". Voltando para a minha nova casa no Rio, onde Cláudia me tinha recebido com um jantar totalmente árabe, despis-me das roupas protocolares e fui sonhar sobre meus momentos de glória libanesa. Na manhã seguinte, a Claúdia jogaria tarô para mim, quando pude ver que minha relação com o Líbano é ancestral e perene.

domingo, 25 de abril de 2010

THE BEATLES & ME

Revendo, como preparação de minha aula, na próxima terça-feira, de "Ética & Estética", o filme "Imagine: John Lennon", de Andrew Solt, dou-me conta do quanto os Beatles plamaram minha alma pacífica, até porque vivi em Londres nos anos 60, justamente quando o grupo inglês estava no auge; àquela época eu ouvia, em discos compactos, as canções recém-lançadas. Adoro Elvis Presley, artista de minha adolescência marianense, mas são os Beatles, principalmente John Lennon, que me comovem em todas as minhas idades. Ouvindo, de novo, os aforismos, "The dream is over". "The war is over, if you want it". "I don't beleive in Elvis, I don't beleive in Kennedy, I don't beleive in the Beatles... I beleive in me", grito, silenciosamente, "the dream must go on". Se John, cantando "They are going to crucify me", profetizou sua morte violenta, canto com ele toda a utopia da paz, que foi sua vida e sua arte. Mesmo com o assassinato do autor de "Imagine", continuo a imaginar (sonhar) um mundo sem fronteiras, sem religiões, todo de paz.

JOHN LENNON

"I'm just a jealous guy".

sábado, 24 de abril de 2010

CAETANO VELOSO, CORAÇÃO VAGABUNDO

Assistindo ao filme "Caetano Veloso, coração vagabundo", de Fernando Grostein Andrade, certifico-me, ainda mais, da genialidade do artista baiano. Sou, literal e metaforicamente, entusiasmado pelo poeta de "Alegria, alegria" e até notei que sua fronte é um real pentagrama, daí resultando, talvez, tanta musicialidade em sua poesia e tanta poesia em sua música. Descubro que, como ele, também adoro São Paulo, onde desenvolvi meu pós-doutorado na USP; como me disse meu mui dileto orientador, Masaaud Moisés, um cavalheiro libanês: "Esta cidade tem visgo". Também John Cage adora São Paulo, sobretudo por três coisas: o vão do MASP, de onde se descortina a cidade; o número exuberante de flores, que enfrentam o estresse da megalópolis; a desorganização dos prédios, que conversam entre si. São Paulo é, segundo Caetano, o avesso do Brasil e eu a considero a cidade mais brasileira, porque tem todos os sotaques brasileiros, todas as etnias deste nosso País multicultural, toda a alegria deste povo carnavalesco. Vendo, revendo, relendo Caetano Veloso, muita coisa acontece em meu coração.

PS Lembro-me, agorinha, de que minha mãe, quando queria repreender minha ousadia de comportamento, me chamava de Caetano Veloso. No fundo, ela sabia que eu adorava o xingamento, que me soava puro elogio.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

CAETANO VELOSO, GENIAL

"Eu sou do sol. Eu quero ser lúcido e feliz".

"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração..."

Vinícius de Moraes

CAIO DI PALMA, MEU ALUNO-DOUTORANDO

Pessal de grandes gragoatardes,

Com a ajuda sutil, e audível, do grupo que estava no último encontro de nossas tardes fulgurais, optei por um dos títulos para o artigo final. Agradeço a todos por atenderem aos apelos dos corpos que trafegam, desconhecidos íntimos, para as zonas marginais dos afetos, dos conhecimentos e do desejo. Aqui interrompo o silêncio-texto para deslizar à metáfora:

TÍTULO - Do Cerne à Cena: O Duplo, o Espelho e a Fragmentação Barthesiana nos Bosques Ficcionais da Narrativa.


Amor, Luz e Revolução no coração de todos os homens,
Caio Di Palma.

JERÔNIMO PEIXOTO, SER DE LUZ ETERNA

Em 20 de abril de 2003, Jerônimo Peixoto passou a uma outra dimensão. Desde 2004, sua filha Cláudia Damasceno promove uma festa, em que congrega a família e os amigos mais próximos, entre os quais, há cerca de 30 anos, eu me incluo. Cada ano, Claudinha traz uma novidade para a festa de seu pai, mantendo a alegria, os acepipes e a música. Uma das grandes novidades foi quando a celebração se realizou em Saquarema, onde mora Everest, o filho mais velho. A cada efeméride, eu faço um discurso que Claudinha, a anfitriã, afixa na Galeria de Arte Jerônimo Peixoto, em Macaé-RJ, que ela montou e mantém ativa em memória de seu progenitor. Este ano, a festa foi, de novo, em Saquarema, porém na casa da noiDia 20 de abril de 2003, Jerônimo Peixoto passou a outra dimensão, deixando mulher e três filhos. A partir de 2004, sua filha Claúdia Damasceno promove, no aniversário do falecimentova de Everest, Andréia, significando a bênção de Jerônimo à nova união e revelando que a família cresce, em amor e pessoas do bem. Não foi formal meu discurso, como aquela vez em Macaé, quando falei sob um céu estrelado e enluarado e as pessoas puderam vislumbrar luzes especiais que brilhavam no momento de minha emocionada fala: seria o sorriso eterno de Jerônimo. Convocado por Claudinha para proferir meu discurso, quis agradecer a hospitalidade da nova casa, parabenizei à Marilza - responsável, na festa, pelo lauto almoço - por ser a mãe de filhos maravilhosos, confraternizei-me com todos, porque membro de uma família, unida pelos laços da mais pura espiritualidade. A partir de orientações da Claúdia, minha Musa e Beatriz, aproveito, sempre, a festa de Jerônimo para homenagear os meus antepassados, sobretudo meu pai, que se foi há uma eternidade, e à minha mãe, que nos deixou já faz 14 longos anos.
De posse da palavra, Marilza Damasceno leu esta belíssima oração de Santo Agostinho:
"A morte não é nada./ Apenas passei ao outro mundo./ Eu sou eu. Tu és tu./ O que fomos um para o outro, ainda o somos./Dá-me o nome que sempre me deste./ Fala-me como sempre me falaste./ Não mudes o tom a um triste e solene./ Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos./ Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo./ Que o meu nome se pronuncie em casa/ como sempre se pronunciou./ Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.// A vida continua significando o que significou:/ continua sendo o que era./ O cordão de união não se quebrou./ Por que eu estaria fora de teus pensamentos,/ apenas porque estou fora de tua vista?/ Não estou longe,/ Somente estou do outro lado do caminho./ Já verás, tudo está bem./ Redescobrirás o meu coração,/ e nele redescobrirás a ternura mais pura./ Seca tuas lágrimas e se me amas,/ não chores mais".

Finda a celebração, cada um de nós sentiu-se mais abençoado e mais forte para continuar a cumprir a missão que lhe cabe.

CLARA NUNES & EU

Na corrente de feriados, fiquei em dúvida quanto ao funcionamento, hoje, dia 22, da UFF, porque dia posterior ao feriado do Tiradentes e anterior ao dia de São Jorge. Consultei a diretora de meu Instituto que me afirmou que seria normal o expediente da UFF; porém, alguns professores me afirmaram que os alunos não compareceriam, preferindo "enforcar" a quinta-feira, dia em que minitro aulas aos calouros. Não avisei a nenhum aluno de que iria à UFF e fiquei na expectativa do "quorum". Pois bem, cumprei meu ritual das quintas-feiras e, qual não foi a minha emoção, a ver todos os meus 50 aluninhos presentes e ansiosos para apresentarem seus trabalhos. Eu solicitara um trabalho sobre mímesis a partir da trilogia "Matrix". Fizeram apoteóticas apresentações, demonstraram que entenderam a questão da mímesis, pesquisada por eles mesmos. Fiquei em estado de êxtase e me dei conta da importância de um professor que se mostra consciente de seu labor. Foram quatro horas de aula, real, virtual, sublime. São minha matrix meus alunos, na aurora de sua vida acadêmica.
Chegado, exausto e felicíssimo, à casa, coloquei, para relaxar, o "dvd" da Clara Nunes, que é uma onda, uma Orixá, uma deusa humana, muito cedo demais levada para a outra dimensão. Que voz de seresteira tem essa cantora da Umbanda, do Candomblé, do carnaval, das Gerais, da cultura brasileira, enfim, da mais lídima cultura afro-brasileira. Tanta alegria exaure Clara em seu caleidoscópico repertório, com sambas, sambas-de-enredo, xotes, forrós, ritmos todos que ela domina com a voz e o corpo todo.
Em minha família sempre correu a história de que Clara Nunes é prima nossa, porque tem o mesmo nome de minha avó materna: Clara Batista Nunes. Deslumbrado perante a beleza da cantora, reconheço traços familiares e homenageio minha avó Clarinha, que sempre me mimou muito. E por falar em artistas na família, também o famosíssimo cantor João Bosco é primo nosso, agora, do lado paterno, libanês. Mamãe dizia que casara usando a grinalda da mãe do João Bosco. Verídicas, fantasiosas, fantásticas, tais histórias fazem parte da mitologia da minha família e eu gosto de lembrar-me delas.
Se, como declara Clara, "cada pessoa tem uma missão na Terra", a arte de Clara Nunes nos ajuda a levar, com felicidade, essa missão. Ela cumpriu belamente a sua e continua a expandir beleza.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

FABIANA CAMARGO

Querido professor Latuf, tudo bem?
Escrevo porque queria dar uma satisfação a você.
Sou aluna do doutorado da UFF e comecei o seu curso na pós sobre Roland Barthes como ouvinte em 16/03, mas, depois, por probleminhas pessoais, descobri que não poderia seguir todas as aulas. Já havia feito todas as cópias, providenciado algumas leituras e tudo, mas não deu pra continuar, fiquei sem jeito de ficar faltando e desisti.
Achei que seria maravilhoso reler Barthes para meu trabalho, que é sobre a obra de Julio Cortázar no trânsito entre o cinema e a literatura, mas, como não pude continuar como devia seu curso, queria dar-lhe esta satisfação e agradecer pelo primeiro contato que fizemos, em que vc foi muito amável, comigo e com todos, mesmo que tivesse decidido a não aceitar ouvintes. Foi minha querida ex-orientadora, Angela Dias, que indicou seu curso.
Então, ficam aqui uma certa frustração de não conhecê-lo melhor nos encontros das aulas e minhas desculpas pela mudança repentina de rumo, mas também fica a certeza de que você é uma grande figura, inteligente e de bem com a vida.
Um abraço e até qualquer dia.
Fabiana Camargo

CONTRA BLANCHOT

Para o teórico francês da crítica-escritura Maurice Blanchot, o objetivo da vida é a morte. Não concordo, porque, quanto a mim, o fim da vida é viver. Segundo Pablo Neruda, "para nacer, he nacido". O objetivo da vida é a vida mesma, sendo a morte a continuação da vida, uma outra vida, misteriosa e instigante, uma passagem, uma viagem sem volta nem reviravoltas. Todos haveremos de morrer, eis a única certeza; o enigma reside no quando e no como. Como enunciou Fernando Pessoa: minha vida está entre a data de meu nascimento e a data de minha morte; entre a duas datas, tudo é meu. Amém!

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA, O POETA

Latuf, você que é um dos três leitores que tenho, mire e veja: celebrando os 30 anos de QUE PAIS É ESTE? a Rocco vai fazer edição especial, lançamentos, etc. Mas fez também um blog que você, por caridade cristã, poderia indicar aos alunos e inimigos:é um blog sobre o livro, as criticas, opiniões de leitores. Quem sabe, no intervalo desse curso que está dando no Cervantes, você opina?
Copie esse endereço:
www.quepaiseesteolivro.wordpress.com

Abraço,ars
VEJA O SITE/BLOG: www.affonsoromano.com.br






VEJA O SITE/BLOG: www.affonsoromano.com.br

AFFONSO ROMANO DE SANT"ANNA DIXIT

Já fui, vi e gostei, como dizia Júlio César nos seus melhores momentos.Sem blog já não se bode viver,abraço,ars

JOGO DOS 8 ERROS NA COZINHA

JOGO DOS 8 ERROS NA COZINHA

Dr. Roberto Figueiredo, o Dr. Bactéria (*) SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA


1° erro:
Lavar as carnes debaixo da torneira.
Primeiro, você perde nutrientes. A carne fica esbranquiçada.
Segundo: a contaminação que existe vai aumentar, porque aumenta a quantidade de água e as bactérias vão penetrar mais ainda. A única carne que se lava é o peixe e só para
tirar escamas e a barrigada.

2° erro:
Colocar detergente direto na esponja, o que leva ao exagero.
O detergente nunca deve ser colocado direto na esponja.
Vai ser muito difícil enxaguar todo esse detergente.
O resto de detergente que fica junto com os alimentos pode
no futuro dar um problema para a sua saúde. Para limpar
sem exagero, você precisa apenas de oito gotas de
detergente em um litro de água.

3° erro:
Usar tábua de carne de madeira.
Na tábua de madeira as bactérias ficam te aplaudindo!
Tábua tem que ser de plástico ou vidro.

4° erro:
Não guardar comida quente na geladeira.
Este é um dos um dos mitos mais difundidos entre as donas
de casa... Não há erro em guardar comida quente na
geladeira.
O único problema é que vai aumentar um pouquinho o consumo de energia, mas não vai estragar a geladeira de modo algum.

5° erro:
Guardar comida quente na geladeira com o recipiente
tampado. O ar frio vai bater na tampa. Vai demorar muito para resfriar e as bactérias vão adorar! Então, coloque tudo destampado.
Depois de duas horas você pode fechar.

6° erro:
Furar a lata de leite condensado e utilizá-la várias vezes.
As pessoas pegam a lata de leite condensado e fazem dois buraquinho, um de cada lado. Sai leite condensado por um lado
e pelo outro entra uma chuva de bactérias.
Abram a lata inteira e passem o leite condensado para um recipiente que pode ser de plástico ou de vidro.
Sirvam sempre com uma colher, depois tampem e guardem na
geladeira.
7° erro:
Ignorar as formigas.
Quando se fala em doce, a gente não pode esquecer as formigas.
Você provavelmente não se importaria se encontrasse uma formiguinha em cima do seu bolo, não é?

Doutor Bactéria: E se fosse uma barata?
Marina Scherb, de 12 anos: Aí eu não como..
Doutor Bactéria: Se a gente pegar uma barata, matar essa barata, deixar no meio da cozinha, no dia seguinte, cadê a barata?
Marina: Sumiu.
Doutor Bactéria: Quem levou?
Marina: As formigas...
Doutor Bactéria: A mesma que estava em cima do bolo?
Marina: É...
Doutor Bactéria: As formigas são consideradas até maiores agentes transmissores de bactérias do que a própria barata.
Doce com formiga só pode ter um destino: a lata de lixo.

8° erro:
Soprar velinhas do bolo de aniversário.
Este é um péssimo mau hábito. Testes comprovam que o bolo fica contaminado por bactérias de saliva.
Esta bactéria produz uma toxina que pode ocasionar aquelas intoxicações com 24 horas de vômito e mal-estar. Evite, também, deixar o bolo fora da geladeira.

(*)Roberto Figueiredo é Biomédico e personifica o Dr. Bactéria.

----- ooooo -----

DAVI ANDRADE PIMENTEL, RETOMANDO PAÇALVRAS DE ROLAND BARTHES, ME DEFINE COMO PROESSOR

"O seminário pode ser visto, metaforiciamente, como um encontro amoroso: o orientador? Ele não está aqui num papel de examinador, sujeito do saber absoluto. Ele procura, como os outros; procurar é não saber. Estamos todos na produção, ninguém está no saber. Seria melhor considerá-lo não como um professor mas como um regente à moda de Sade; um lugar que faz girar a cena. Ele dá regras e não leis, ele assegura um certo rendimento do prazer. Ele é o mestre-de-cerimônias".

domingo, 18 de abril de 2010

LEILA MÍCCOLIS

PARAFRASEANDO JORGE BENJOR


"Todo dia era dia de índio
Mas agora ele só tem o dia 19 de abril"
in Todo Dia Era Dia de Índio



Num mundo de sérias metas,
todo dia deveria
ser de índio
e de poeta...

VIVA O LÍBANO!

Prof Latuf,
Gostaria de saber se recebeu teu convite do coquetel da visita do presidente do Libano pelo correio e se já confirmou tua presença.
Eu tomei a liberdade de enviar teu site com teu currículo resumido para o consulado e eles passaram para o árabe e enviaram para o ´Libano e o sr foi um dos Libaneses escolhido para uma entrevista com o presidente do Libano no hotel Sofitel , na segunda feira , o horario ainda nao sei.
O acessor da presidencia da república Libanesa escolheu alguns libaneses que fazem a historia e o crescimento do Brasil para uma conversa rápida com o presidente da república na segunda no Hotel Sofitel. Espero que goste e compareça
beijão
Beth Abi

sábado, 17 de abril de 2010

LUIZ GONZAGA NASCIMENTO JÚNIOR, IMORREDOURO

A inexorável morte não calou a voz de Gonzaguinha, uma voz sinfônica, saída das entranhas, molhada de sertão e chuvas. Assistindo ao "dvd" "Gonzaguinha", dou-me conta de que sua voz ressoa no coração brasileiro. Suas sublimes canções foram gravadas pela maiores vozes femininas do Brasil - Elis Regina e Maria Bethânia. Num País de imensas cantoras e de poucos cantores, Gonzaguinha é, ao lado de Francisco Alves, Orlando Silva, Agostinho dos Santos, Jessé, Vicente Celestino, Tim Maia e Milton Nascimento, quase único.

POÉTICA DO HAICAI

Iluminação
Forma mínima de língua
Haicai: zen-budismo


Acontecimento
Forma poética breve
Haicai: flash, insight


Tudo é transitório
Somos feitos de mudanças
Haicai: coexistência

POÉTICA DO HAICAI

Iluminação
Forma mínima de língua
Haicai: zen-budismo


Acontecimento
Forma poética breve
Haicai: flash, insight


Tudo é transitório
Somos feitos de mudanças
Haicai: coexistência

sexta-feira, 16 de abril de 2010

GAEL, O CONDUTOR

Voltando, de carro, ontem, à noite da casa de sua vó, Gabriel pulou para o banco do motorista e, do alto de seus três aninhos, anunciou a todos: "Vou dirigir". Começou, então, a virar o volante e tentou buzinar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Idéias do canário, Machado de Assis (1839-1908)

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

No princípio do mês passado, — disse ele, — indo por uma rua,sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

A loja era escura, atulhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário.

A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

— Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

— Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo.

— Como — interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?

— Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou vendo que confundes.

— Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.

— Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as idéias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito.

— Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?

— Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que cousa é o mundo?

O mundo, redargüiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

— As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.

— Quero só o canário.

Paguei lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas idéias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

Não tendo mais família que dois criados, ordenava lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, — ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas.

Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

— O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias.

Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e pôr lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto.

— Mas não o procuraram?

Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

— Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos?

Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular.

— Que jardim? que repuxo?

— O mundo, meu querido.

— Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior.

— De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?


Texto extraído do livro “O Alienista e outros contos”, Editora Moderna – São Paulo, 1995, pág. 73.

MISE EN ABYME

O Instituto Cervantes, do Rio de Janeiro, promoveu, dia 14 de abril último, um evento, denominado "Liter@atur@ na rede", de que participamos, como conferencistas, Doménico Chiappe, peruano, e eu, mediados por Ramon Mello. Quando fui convidado, por indicação do Programa de Pós-Graduação em Letras, da UFF, não titubeei nem um minuto quanto ao tema que exporia: "o blog". Fundou-se meu desejo em um duplo fato: sou, desde 2009, blogueiro convicto, e ofereci, na própria UFF, todo um curso "Epistemoloia da arte", baseado no "blog", como novo "locus" para o texto de arte e, sobretudo, o texto literário. Tivemos casa cheia, quase superlotada, não fora o qüiproqüó quanto ao lugar do evento; para mim, seria na Livraria da Travessa, na Rua do Ouvidor, mas soube, na última hora, que falaríamos no próprio Cervantes. Assim, vários de meus alunos não puderam ouvir-me, porque foram ao endereço errado. A grande vantagem, penso eu, para além de poder expor sua idéias e pesquisas, desses eventos é, a meu ver, o encontro e o reencontro com pessoas. Conheci o pessoal do Cervantes, em especial o diretor, Antonio Martinez que se me revelou um cavalheiro, bem como a Ruth, muito eficaz. À mesa, tive o grande prazer de ouvir a Deménico Chiappe, que mora em Madri e falou sobre "O autor frente aos desafios da tela". Ele apresentou um romance multimédia, de sua autoria, e discorreu sobre o processo e o resultado dessa inovação toda, que mistura texto literário, música, canções, imagens: uma parafernália, enfim. Ramon Mello é um jovem poeta araruemense, que trabalha na Secretaria da Cultura e vive, literalmente, na metafórica rede, pois ganha o pão com a Internet. Brinquei com ele, dizendo-lhe que é um Macunaíma, deitado na rede da cultura. Foi excelente a mediação do Ramon, que justificou, mais uma vez, meu entusiasmo com relação a essa juventude conectada. Conferi à minha palestra o título "Eu, blogueiro, me confesso ou o prazer do blog", um sintagma duplo, que refere, ao mesmo tempo, a liturgia católica da penitência ("eu, pecador me confesso")e a semiologia de Roland Barthes (1915-1980), autor do magnífico livro "O prazer do texto". O título que, finalmente, aparece no prospecto do evento "Está nervoso? Vai blogar" foi a epígrafe, em que parafraseo os adesivos de carros aqui na Região dos Lagos: "Está nervoso? Vai pescar". Não que eu considere a arte uma terapia ou catársis à la Aristóteles. Arte é pensar, repensar, refletir (e "refletir" em sua etimologia, significando dobrar-se sobre si mesmo, o pensamento voltado para si, a linguagem em torno da linguagem). Em minha intervenção, parti da minha práxis de usuário do "blog", presente de minha amiga Roseana Murray (ela é judia e eu sou árabe: somos, definitivamente, o emblema da paz universal). Uso o "blog" como um espaço de minha experiência de escritura, uma oficina de textos, um laboratório do labor literário. Não insiro imagens, tampouco sons, não só porque não sei mexer, na internet, com esse tipo de sistemas semióticos, como pelo fato de querer o texto, o texto absoluto, o texto luminoso, o texto em si, sem "links" outros que afastem da letra o provável leitor. Já o mundo anda locupletado de imagens e sons e eu quero o silêncio da palavra cansada ("a pá que lavra", consignou Wilson Coelho, aluno meu de doutorado). Hipertextual por natureza, a internet não deve dispersar mais ainda quem dela se serve. Venho notando que meus alunos de graduação, que andam na adolescência, ou recém-saídos dela, têm uma criatividade absurda, mas apresentam uma enorme dispersividade, fazendo 1001 coisas ao mesmo tempo; fazem coisas ótimas, mas prefiro que eles fiquem focados, centrados, compenetrados diante da Internet, máquina da dispersão. Não concordo, em absoluto, com aqueles que sustentam que a juventude não pensa. Os jovens pensam sim. Pensam diferentemente. Pensam obliquamente. E estão disponíveis para quem queira fazê-lo pensar, como é o caso do professor. Meu blog não é, definitivamente, uma viagem em torno de meu fatigado umbigo. É claro que aqui inscrevo experiências minhas, observações, iluminações (todo ser é iluminado), anotando coisas que, não fora a blogsfera, eu perderia. Todavia, opto, sobretudo, por montar um blog como se fora uma antologia, com meus poemas preferidos, fragmentos que me encantam, aforismos e quejandos. Sei da força do blog e minha práxis de blogueiro me tem exigido uma disciplina literária. Mesmo fora da sala de aula, sinto-me um professor para o mundo. E quem mais aprende sou eu, blogueiro que se confessa com o prazer do blog. O apelido do meu blog seria "blogozoso".

quarta-feira, 14 de abril de 2010

FERNANDO ARRABAL

"Porque se o caos é a demência dos Titãs, a imaginação é o acaso dos rebeldes e dos deuses. Quando o escritor cobre de sinais o papel, o seu corpo aplana a borda da sua história, como a gaivota que se eleva com a brisa e treme de felicidade".

domingo, 11 de abril de 2010

A TESE DO COELHO

Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois, passou por ali a raposa e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:
R - Coelhinho, o que você está fazendo aí tão concentrado?
C - Estou redigindo a minha tese de doutorado - disse o coelho sem tirar os olhos do trabalho.
R - Humm .. . e qual é o tema da sua tese?
C - Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais de animais como as raposas.
A raposa fica indignada:
R - Ora! Isso é ridículo! Nos é que somos os predadores dos coelhos!
C - Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo então resolve saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:
L - Olá, jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?
C - Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.
O lobo não se contém e cai na gargalhada com a petulância do coelho.
L - Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
C - Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova. Você gostaria de me acompanhar à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e ... silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido... Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme LEÃO, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes.




MORAL DA HISTORIA:
- Não importa quão absurdo é o tema de sua tese.
- Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico.
- Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria.
- Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos...
- o que importa é QUEM É O SEU ORIENTADOR...

De Lima Barreto publicado no jornal Correio da Noite, Rio, 19-1-1915.

As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro,
inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma
prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade,
essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de
haveres e destruição de imóveis.
De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do
dever de evitar tais acidentes urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão
perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples
problema.
O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode
estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida
integral.
Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha! Não
sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não
é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros
municipais, procrastinando a solução da questão.
O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade,
descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio. Cidade
cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes
precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse
acidente das inundações. Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os
aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos
problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social.

NELI NEVES, ALUNA MINHA EM CURSO DO PÓS-GRADUAÇÃO SOBRE ROLAND BARTHES

Professor Latuf,
Talvez interesse, talvez não. Aconteceu assim: busquei na internet definição de simulacro. Encontrei um texto e enquanto o lia, eu me sentia tocada e remexida... fazia me lembrar de algumas de suas palavras em aula.
Quem havia escrito aquilo? Fui para o final e vi que o texto era seu!
Veio uma alegria e pensei em lhe escrever...
É só isso.
Um abraço.

sábado, 10 de abril de 2010

Roland Barthes (O Prazer do Texto)

“Eis um estado muito sutil, quase insustentável, do discurso: a narratividade é desconstruída e a história permanece no entanto legível: nunca as duas margens da fenda foram mais nítidas e mais tênues, nunca o prazer foi melhor oferecido ao leitor – pelo menos se ele gosta das rupturas vigiadas, dos conformismos falsificados e das destruições indiretas. Ademais o êxito pode ser aqui reportado a um autor, junta-se-lhe o prazer do desempenho: a proeza é manter a mimesis da linguagem (a linguagem imitando-se a si própria), fonte de grandes prazeres, de uma maneira tão radicalmente ambígua (ambígua até a raiz) que o texto não tombe jamais sob a boa consciência (e a má fé) da paródia (do riso castrador, do “cômico que faz rir”).”

JOSÉ AUGUSTO SEABRA, ANTOLOGIA PESSOAL

“o constante contraponto de duas vocações, cuja tendencial coincidência não foi por vezes sem tensões extremas: a da palavra escrita que no poema cristaliza, irradia ou se refracta e a da palavra agida a todos os níveis, uma e outra movendo-se em tempos entrelaçados. Mas em primeira e última instância só a palavra salva”.

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AMOROSO, ROLAND BARTHES (1915-1980)

MITOS

«Dois poderosos mitos fizeram-nos acreditar que o amor podia, devia sublimar-se em criação estética: o mito socrático (amar serve para criar uma multidão de belos e magníficos discursos) e o mito romântico (produzirei uma obra imortal escrevendo a minha paixão).»


A Noite é outra…

Mas também, às vezes, a Noite é outra: sozinho, em postura de meditação (será talvez um papel que me atribuo?), penso calmamente no outro, como ele é: suspendo toda interpretação; o desejo continua a vibrar (a obscuridade é transluminosa), mas nada quero possuir; é a noite do sem-proveito, do gasto sutil, invisível: estoy a oscuras: eu estou lá, sentado simples e calmamente no negro interior do amor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

ROLAND BARTHES PAR ROLAND BARTHES

"Et après?

- Quoi écrire maintenant? Maintenant? Pourrez-vous encore écrire quelquer chose?
- On écrit avec son désir, et je n'en finis pas de désirer".

MEUS B'S

Brasil, Balzac, Barthes, Blanchot, Borges, B...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

JOSÉ MARTÍ (1853-1895), POETA CUBANO

"Todo está dicho ya; pero las cosas, cada vez que son sinceras, son nuevas."

BRASILEIRO, PROFISSÃO: ESPERANÇOSA RESISTÊNCIA

Recém-chegada da ensolarada Natal-RN, uma turista potiguar, face ao caos das chuvas e inundações no Rio de Janeiro, respondeu ao jornalista o que achava da situação carioca: "O Rio de Janeiro é o Rio de Janeiro".

PROVÉRBIOS NA ERA DIGITAL

1. A pressa é inimiga da conexão.

2. Amigos, amigos, senhas à parte.
3. A arquivo dado não se olha o formato.
4. Diga-me que chat frequentas e te direi quem és.
5. Para bom provedor uma senha basta.
6. Não adianta chorar sobre arquivo deletado.
7. Em briga de namorados virtuais não se mete o mouse.
8. Hacker que ladra, não morde.
9. Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.
10. Mouse sujo se limpa em casa.
11. Melhor prevenir do que formatar.
12. Quando um não quer, dois não teclam.
13. Quem clica seus males multiplica.
14. Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.
15. Quem envia o que quer, recebe o que não quer...
16. Quem não tem banda larga, caça com discada.
17. Quem semeia e-mails, colhe spams.
18. Quem tem dedo vai a Roma.com
19. Vão-se os arquivos, ficam os back-ups.
20. Uma impressora disse para outra: - Essa folha é sua ou é impressão minha.
21. Na informática nada se perde nada se cria. Tudo se copia... E depois se cola.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

EDTL, CARLOS CEIA

"(...)quem acredita que é possível ir juntando ordeiramente ideias ao longo de vários anos, arrumando-as em estantes de palavras, ensaiando cada palavra até lhe encontrar um lugar digno, limpando-lhes o pó das dúvidas que todos os dias se acumulam, até ao dia em que a biblioteca electrónica de palavras ganha um rosto a que se chama, provisoriamente, e-dicionário".
"Como colaborador privilegiado deste projecto, gostava que fosse dos primeiros a testar a nova plataforma".

Carlos Ceia, autor do E-Dicionário de Termos Literários

ALUNOS... INTELIGENTES

Professor: O que devo fazer para repartir 11 batatas por 7 pessoas?
Aluno: Purê de batata, senhor professor!


Professor:- Joaquim, diga o presente do indicativo do verbo caminhar.
Aluno:- Eu caminho... tu caminhas... ele caminha...
Professor:- Mais depressa!
Aluno:- Nós corremos, vós correis, eles correm!



Professor: "Chovia" que tempo é?
Aluno: É tempo muito mau, senhor professor.


Professor: Quantos corações nós temos?
Aluno: Dois, senhor professor.
Professor: Dois!?
Aluno: Sim, o meu e o seu!



Dois alunos chegam tarde à escola e justificam-se:
- O 1º Aluno diz: Acordei tarde, senhor professor! Sonhei que fui à Polinésia e a viagem demorou muito
- O 2º Aluno diz: E eu fui esperá-lo no aeroporto!


Professor: Pode dizer-me o nome de cinco coisas que contenham leite?
Aluno: Sim, senhor professor. Um queijo e quatro vacas..


Um aluno de Direito a fazer um exame oral: O que é uma fraude?
Responde o aluno: É o que o Sr. Professor está a fazer.
O professor muito indignado: Ora essa, explique-se...
Diz o aluno:Segundo o Código Penal comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar!




PROFESSORA: Maria, aponte no mapa onde fica a América do Norte.
MARIA: Aqui está.
PROFESSORA: Correto. Agora turma, quem descobriu a América?
TURMA: A Maria.


PROFESSORA: Joãozinho, me diga sinceramente, você ora antes de cada refeição?
Joãozinho: Não professora, não preciso... A minha mãe é uma boa cozinheira.

PROFESSORA: Artur, a tua redação "O Meu Cão" é exatamente igual à do seu irmão. Você copiou?
ARTUR: Não, professora. O cão é que é o mesmo.


PROFESSORA: Bruno, que nome se dá a uma pessoa que continua a falar, mesmo quando os outros não estão interessados?
BRUNO: Professora.

domingo, 4 de abril de 2010

O VOCABULÁRIO DE GAEL

A cada dia, Gabriel vem da escola com uma palavra nova. Outro dia, ele me disse, literalmente: "Você é bobo". Não quis acreditar meus ouvidos e corrigi o pimpolho: "Vovô". No dia seguinte, ele me veio com o aumentativo: "Você é bobão" e eu lhe respondi com o diminutivo: "Vovozinho".

VELHICE

Tenho observado que ser velho é queixar-se de tudo: se faz calor, se faz frio, se chove, se é dia, se é noite; o velho reclama o tempo todo: do governo, do desgoverno, da juventude, da infância, do sistema de saúde, dos meios de transporte. Postado frente à televisão, é vítima do terrorismo que esse meio de comunicação exerce. Inda há pouco, falei a uma senhora que, num ponto-de-ònibus, me falava da violência em São José do Rio Preto-SP_, que ela desligasse a televisão e abrisse um livro. "Mas ler me faz mal à vista". E a televisão, retruquei-lhe, prejudica a saúde mental. Ao despedir-me dela, bela com seus olhos azuis, desejei-lhe uma feliz páscoa e que olhasse mais para os pássaros de seu sítio.

sábado, 3 de abril de 2010

IN MATRIX, RAMA SAID TO NEO

"What matters is the conection the word lies".

O vendedor de palavras

Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical".


Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico - apenas R$ 0,50"
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é "histriônico" a cinqüenta centavos, como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de "histriônico" ?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isto? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.
- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o país sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?
- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem a barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento.
Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto.
São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa, ela nunca me enganou.
Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga.
Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lengalenga.
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também "evasivas".
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei!Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só "histriônico" estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?

- Tem troco para cinco?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

LES CHANTS DE MALDOROR, DU COMTE DE LAUTRÉAMONT (1846-1870)

Beau comme la rencontre fortuite sur une table de dissection d'une machine à coudre et d'un parapluie

Conae: Livros didáticos e escolas terão de incluir temática LGBT

Simone Harnik
Em Brasília
Os temas sobre orientação sexual e homossexualidade terão de aparecer nos livros didáticos e nas salas de aula. Pelo menos, foi essa a decisão da Conae (Conferência Nacional de Educação), que acontece em Brasília até amanhã (1º).
Segundo o presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Toni Reis, o movimento LGBT está satisfeito com a conferência. “Saímos vitoriosos. Se o país cumprir o que foi aprovado, a homofobia na escola está com os dias contados”, afirma.
A Conae pretende traçar diretrizes para a educação do país, que podem ser incorporadas no Plano Nacional de Educação. É este plano que define o que será prioridade no ensino brasileiro nos próximos dez anos.
Além da presença nos livros escolares, a temática LGBT deverá ser ensinada nas faculdades e cursos de formação de professores. Além disso, de acordo com Reis, a conferência definiu que o livro didático não poderá ter conteúdos que discriminam homossexuais. “É o fim das piadas sobre gays nos livros”, diz.

Propostas LGBT na conferência
O movimento LGBT levantou três propostas na Conae: o fim da homofobia na escola; que travestis possam usar o nome feminino nas salas de aula; e que a discriminação a homossexuais seja considerada crime no Brasil. “Hoje temos uma preocupação especial com a situação das travestis, que são as que sofrem mais discriminação na escola”, acrescenta.
Segundo Reis, entidades nacionais apoiaram os projetos, entre elas a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e a Fasubra (Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasileiras).
Agora a ABGLT pretende utilizar a decisão da Conae como uma referência para pressionar por mudanças. “Queremos avaliar, monitorar, e acompanhar de forma propositiva as políticas públicas”, diz Reis.
A Conae pretende traçar diretrizes para a educação do país, que podem ser incorporadas no Plano Nacional de Educação. É este plano que define o que será prioridade no ensino brasileiro nos próximos dez anos.
Além da presença nos livros escolares, a temática LGBT deverá ser ensinada nas faculdades e cursos de formação de professores. Além disso, de acordo com Reis, a conferência definiu que o livro didático não poderá ter conteúdos que discriminam homossexuais. “É o fim das piadas sobre gays nos livros”, diz.

ELAS CANTAM ROBERTO CARLOS

Como presente de Páscoa, dei-me o "dvd" "Elas cantam Roberto Carlos". Quem são elas? Hebe Camargo, Luiza Possi, Zizi Possi, Alcione, Fafá de Belém, Celine Imbert, Daniela Mercury, Wanderléa, Rosemary, Fernanda Abreu, Paula Toller, Marília Pera, Marina Lima, Sandy, Mart'nália, Adriana Calcanhoto, Cláudia Leite, Nana Caymmi, Ana Carolina e Ivete Sangalo, um elenco estelar em torno do "Rei". Muitas outras cantoras deste País privilegiado por belíssimas vozes femininas poderiam abrilhantar aquele espetáculo. Em minha opinião, quem mais brilha é Marília Pera. Naquele palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ela, atriz, no papel de cantora, é a diva. Interpretando esplendidamente a canção "120...130... 200 km por hora", Marília Pera apresenta uma ópera.

ÊXTASE

Ao peso do beijo do beija-flor
O galho da flor estremece
Eu tremo junto.

IN MATRIX, NEO SAID TO THE ARCHICTECT

"Choice. The problem is the choice".

IN MATRIX, PERSEPHONIS TO NEO

"It's just a kiss".

IN MATRIX, NEO SAID TO TRINITY

"Next to dreams".

MÁRCIO REZENDE, JORNALISTA

"Quanto às faltas, farei o impossível para recuperar o tempo perdido e, até o final de abril, estar junto com a turma. É uma pena perder suas aulas, pois senti em você a intensidade racional dos grandes mestres".

quinta-feira, 1 de abril de 2010

MORPHEUS SAID TO NEO IN MATRIX

"Don't think you are. Know you are".
"There is a difference between klnowing the path and walking the path".