segunda-feira, 31 de maio de 2010

Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e Dalai Lama.

Leonardo Boff conta:
"No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, perguntei- lhe em meu inglês capenga:
"Santidade, qual é a melhor religião?"
Esperava que ele dissesse:
"É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."
O Dalai Lama fez uma pequena pausa,deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou:
"A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
"O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
"Aquilo que te faz mais compassivo (e aí senti a ressonância tibetana, budista,
taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível,
mais desapegado,
mais amoroso,
mais humanitário,
mais responsável...
A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável.
Do livro: Espiritualidade - Um Caminho de Transformação de Leonardo Boff

HERNÁN ULM, MEU ORIENTANDO

os orientandos são o duplo do orientador

LUIZ GONZAGA DE CARVALHO, DIMIDIUM ANIMAE MEAE

Saudosa alma, como vais tu?
Recebi o incrível magnificat. É por isso que ainda bendigo meus nove
anos de Mariana, por isso que aguento todo o peso do meu passado de
2.000 anos - consigo apreciar coisas como este hino que você me
mandou. A mulher canta demais, e a música, e ainda a letra, tudo é
soberbo.E as pinturas, que digo eu?
Agora, quanto a me ter visto no Mercado Central, isto não é nada
extraordinário, você me vê todo dia e em todo lugar.
De ontem, de hoje e de sempre, Luizinho.

SIGNIFICANTE EQUIVOCADO

Querendo qualificar positivamente a maravilhosa aula que acabávamos de ter, Lucas Garcia, excelente aluno meu do primeiro período, assim falou: "Foi hipoteótica!" Adorei o neologismo, criado em cima do significante "apoteótico".

HERNÁN ULM, MEU DOUTORANDO

por causa do livro de barthes a câmara clara, fiquei entusiasta com o haiku. anteontem de noite, pesquisando pela internet encontrei toda uma pasta de haikus de Matsuo Basho. Foi uma experiência inacreditável ler aqueles poemas. E eu devo isso a você.


você é um haiku de felicidade!!!

domingo, 30 de maio de 2010

MAGISTÉRIO COMPARTILHADO

Numa roda acadêmica, discutia-se como cada professor profere sua aula. Um disse que conta estórias; outro opta pela aula "didática"; outro, ainda, faz preleções. Quando chegou minha vez de declarar meu método de ensino, convoquei um doutorando meu para falar por mim. Ele disse que eu faço os alunos darem as aulas.

RODA AMOROSA DE LEITURA ROSEANA MURRAY

A 15ª. Roda de Leitura Roseana Murray, realizada dia 19 de maio do ano em curso, ocorreu dentro dos protocolos, que regeram as edições anteriores, mantendo, portanto, uma tradição de cultura em nossa Saquarema, tão bela e tão carente de ações culturais duradouras.

Cheguei bem antes do horário de abertura, 9hs., porque estava com muitas saudades de nossas Rodas (a anterior acontecera dia 25 de novembro de 2009) e daquela casa amarela, postada frente ao Atlântico, e também porque gosto de ver chegando as pessoas, que se mostram atentas, cheias de expectativas e como quem vai ganhar presente.

Estava lindo o dia outonal, com o mar imensamente turquesa e um clima agradabilíssimo, soprando que estava uma leve brisa. Aos poucos, a varanda marítima encheu-se de crianças e professores, vindo de dez escolas municipais; a cartografia desta Roda de Leitura abrangia todo o município, com suas escolas espalhadas pelos quatro cantos e recantos: Clotildes de Oliveira Rodrigues (na Vila), Padre Manuel (Bacaxá), Castelo Branco (Boqueirão), Gustavo Campos da Silveira (Gravatá), Luciana Santana Coutinho (Porto da Roça), Ismênia Ramos Barroso (Jaconé), Menaldo Carlos (Caixa d’Água), Elcina de Oliveria Coutinho (Água Branca), Edílson Vignoli (Rio d’Areia), Orgé Ferreira dos Santos (Itaúna).

Na casa de Roseana e Juan tudo nos convida à poesia, assim a anfitriã inaugurou aquela edição com a leitura de seu poema “Gaiola”, extraído do livro Falando de pássaros e gatos (Editora Paulus):

de agora em diante

de trás pra frente

e para sempre

nenhuma gaiola amarre

as asas de um pássaro

os passos de um felino

os sonhos de um homem



O silêncio que se seguiu à escuta do poema parecia dizer: Amém!



A atividade seguinte consistiu na leitura do conto “O caso do papagaio Zé Augusto”, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, em seu livro Contos e crônicas para ler na escola. Foi alegre a recepção do texto hilário, que fez, por exemplo, Evelyn Kligerman, convidada sempre especial de todas as Rodas de Leitura, lembrar-se do que presenciou em praça na Cidade do México, onde o machismo dos mexicanos era medido pela carga de voltagem de choque que cada homem, que se apresentava para o espetáculo, conseguia suportar: o papagaio Zé Augusto adorava tomar choques elétricos, assim como os hombres do México exibem sua força viril por agüentarem fortes choques.

Dando continuidade, houve a leitura, em jogral, do conto “O jardim dos gatos obstinados”, do livro Marcovaldo (1963), de Italo Calvino (1923-1985). Antes, porém, do texto, Juan Arias , que conheceu e entrevistou a Italo Calvino, falou um pouco sobre o escritor italiano, que detestava entrevistas e vivia recluso em Milão, observando, com terrível ironia, as cidades, visíveis e invisíveis. Juan referiu, ainda, a curiosidade do leitor com relação ao autor: quem está por trás do texto? Como o leitor imagina Roseana Murray, que abre as portas de sua casa para seus leitores? O jornalista de El Pais, mais importante periódico da Espanha, informou, ainda, que, na Antigüidade, uma folha de papiro custava 100 bois; tal ato deve nos fazer pensar na nossa felicidade de podermos ler e escrever sem termos que fazer troca de bovinos.

Com o subtítulo de “as estações na cidade”, Marcovaldo remete às quatro estações, em que se passam as fábulas, tendo, sempre, como protagonista a Marcovaldo, um sujeito ingênuo, criativo, sensível, bufão, melancólico, felliniano, diria eu, um Carlitos chapliniano. Na elaboração de suas estórias, Calvino trama a linguagem numa rede tão fina que quase esgarça a própria linguagem.

Foi tão emocionante a leitura do conto que um dos comentários, entre vários – “parece um desenho animado”, “o narrador nos mostra, com signos verbais, as 1001 realidades de toda cidade”, “vemos a cidade pelos olhos dos gatos” - feito por uma menina, identificava Marcovaldo com os gatos, recriando, portanto, a narrativa no sentido de o narrador metamorfoseasse no felino, num dos felinos milaneses. Por obra e arte de uma leitorinha, a figura de retórica “antropomorfismo” virava-se do avesso. De minha parte, vi o tempo todo os gatos de Roma, cidade onde morei e estudei e em que os gatos, ocupando celebérrimas ruínas, fazem parte da mitologia da cidade.

Com o gostoso lanche - pães doces, café, chocolate, bolo -, que foi servido aos convivas, fui observando as reações dos alunos e dos professores e o que mais me marcou foi a alegria de todos, bem como a festa que faziam em torno de Roseana Murray, tornada, naquela manhã luminosa, uma real celebridade, porque fotografada o tempo todo e solicitada para autógrafos. Até parecia – pensava eu – que a platéia adivinhara, inconscientemente, que nossa doce anfitriã vivia pesado luto por sua mãe, enterrada no “dia das mães”, e necessitava de afetos.

As várias edições das Rodas de Leitura têm-se revelado, não somente como uma tomada de consciência, por parte da comunidade saquaremense, quanto à importância da leitura, na formação do cidadão, quanto lugar propício ao desenvolvimento dos afetos; aliás, a arte tem esse condão de unir amorosamente. E a poesia de Roseana Murray, que abre seu coração e sua casa aos leitores, tem sido catalisadora de imensos afetos.

SARMO 23 DOS MINERO

O sinhô é meu pastô e nada há de me fartá
Ele me faiz caminhá pelos verde capinzá
Ele tamém me leva pros corgos de água carma

Inda que eu tenha qui andá
nos buraco assombrado
lá pelas encruzinhada do capeta
não careço tê medo di nada
a-modo-de-quê Ele é mais forte que o “coisa-ruim”

Ele sempre nos aprepara uma boa bóia
na frente di tudo quanto é maracutaia

E é assim que um dia
quando a gente tivé mais-pra-lá-do-qui-pra-cá
nóis vai morá no rancho do sinhô
pra inté nunca mais se acabá...

LUÍS GUSTAVO GUADALUPE SILVEIRA

Acabo de receber, pelo correio, o livro "Um por minuto", do jovem escritor mineiro Luís Gustavo Guadalupe Silveira, que abro por acaso e leio, à página 27: "Um conto surreal. Era uma vez, uma história sem pé nem cabeça, mas tão sem pé nem cabeça que na verdade não era uma história: era uma minhoca". Genial!
Recentemente, a Academia Brasileira de Letras lançou um concurso de contos no "twitter", que deveria conter 140 caracteres. Para mim, o mínimo conto do Luís Gustavo teria merecido a láurea. Vou continar a ler esse escritor tão relampejante.

FERNANDO FIORESE, PROFESSOR ACOLHEDOR

Querido Latuf,
Chegando em casa, logo após as nossas despedidas, apresso-me em visitar o seu blogozoso e ler o post sobre sua primeira visita à Juiz de Fora, à UFJF. E alegra-me saber que estivemos à altura na nossa acolhida e que você aqui esteve uma segunda vez em menos de uma semana e que voltará muitas vezes mais para o nosso regozijo. Obrigado pelas palavras-carícias e por emprestar-nos a sua nobre inteligência, a sua refinada sensibilidade, o seu alto senso de humor.
Abraços,
Fernando Fiorese

quinta-feira, 27 de maio de 2010

SENHAS, ADRIANA CALCANHOTO

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu aguento até os estetas
Eu não julgo a competência
Eu não ligo para etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
Eu compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto do bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem…

CARIOCAS, ADRIANA CALCANHOTO

http://www.youtube.com/watch?v=XEnxcG_tm6k&feature=related

CAIO DI PALMA, MEU DOUTORANDO

Caros companheiros gragoatardenses,

Embora as palavras nunca possam dizer nada para além de si mesmas, e qualquer tentativa de transpor em linguagem as manifestações do corpo não passem de pueris instrumentalizações dos sujeitos em signos, compartilho convosco os calores de meu último escrito alimentado por nosso último encontro. Devo dizer que nossas divagações intelectuais, ou poderia dizer, disseminações sensoriais, tem provocado profundas cicatrizes no meu corpo-texto de cada dia. Na última aula, nossas reflexões finais sobre vida, morte, existência, arte e dionisismo convocaram-me impiedosamente para um flerte obsceno com as chamas, fui incendiado pelas labaredas estranhas da arte em potência, da revolução e do desregramento dos sentidos corpóreos e textuais.
Agradeço profundamente a todos vocês pelo andamento sublime que tem sido este corpo-a-corpo entre nossos pensamentos, anseios, paixões e corpos!

Amor, Luz e Revolução no coração de todos os homens,
Caio

IMANIFESTO HORIZONTAL AOS COVARDES

OU O ESTUDO DE DOIS CORPOS



Primeiro, um lugar que faça girar a cena

Um corpo escrito sobre outro corpo,

A divulgar as esculturas preservadas nos sujeitos

Os dois e o silêncio, o tempo como professor



Atinjo o óbvio obtuso das duas bocas

Assusto-me, evidências da minha morte!

Quem poderá, com um gesto,

Riscar a odisséia de vossas vidas?



Um corpo torna-se presença

Sob escombros fátuos do pensamento,

Cruzo ilhas férreas em cólicas de Gaia

No dia-a-dia Réia, digo rios (tempos)

Uno-me a ele através de seus gestos previsíveis,

Seus receios medíocres, suas plataformas castradas



Salivar seus indícios escusos,

No caos ácido da cidade entorpecida,

Faz-me sufocar o desejo e a selvagem figura.

Tento, mas não atinjo, seu vazio instaurador

- Do silêncio ou da morte do sentir?

Quem diz? Que importa quem fala?

Já disse alguém.



Nesse corpo, apenas sinto o neutro,

A opinião velada no insulto.

Eis o ser que se ausenta e teme-se,

Interrompe a imersão no acaso sexual



O neutro é a recusa do jogo e do amante,

É tornar-se ausência quando deveria tornar-se dado,

É fechar o texto no abrir da página



Há um tal provincianismo do geo-narcisismo

Que enjoa-me as alegorias e as divagações sexuais

As metáforas edipianizam-se, apagadas aqui

Nesse solo, inútil presença riscada



Fazer o que há é tarefa de poucos

Lançar-se no abismo do devaneio sutil,

Tactear as vertigens taradas do acaso indisciplinador

Assinar, no próprio sexo,

As libertações casuais dos trajetos em revoluções.

Tarefa nobre, corajosa e ensandecida,

Suicida, às vezes, no gosto sul do olhar noturno!



- Eis que pressinto Dioniso se apossar do texto /sic/

Os dados, já no jogo estamos lançados!



O segundo corpo, ilustre filho da meta-noite,

Intersecciona o fundo branco da tela

Desembainha, pelo avesso do sexo,

As peles vestidas na estranheza do corpo calado.



Há fuligem nas chamas dos dedos – um texto,

Perscruta ecos e tintas nos lagos obscenos da dedicação.

Em irradiação volátil de afetos, traquina,

Confunde as formas num deserto de almas.

Diz ser parte Fausto, parte Orfeu e todo enigma

Uno-me a ele através de suas imagens e seus fantasmas.



Insinua-se como um rito errante,

Cênico nas dissimulações amorosas,

Faz delirar os homens de prazeres outros.

Sob as tábuas inscritas em seu cheiro tatuado,

O laço do amante entregue ao delírio!

Origens dispersas, talvez eternamente,

De saudosas orgias bacantes



As primeiras mulheres selvagens abrem-se,

Libertam-se do temor e das gentes suas

Errando pelas colinas em busca de Dioniso,

Comem carne crua e trepam na relva nua

Em torpor ou vislumbre profético,

Escutamos a descontrolada manifestação do sublime.

Elas desinstrumentalizam-se, ex-sujeitos

Não sujeitas ao acaso obrigatório das identidades



Isoladas na mania dionisíaca,

Tratam de apagar os rastros serenos de Apolo,

O deus sol, a clave diurna e racional dos paradigmas

Ousam, no decorrer das luas,

Ondular os colapsos nervosos do bárbaro Dioniso,

Deus estranho, libertador de paixões e de fúrias



O limítrofe hermafrodita embriagado,

Imagem arquetípica da vida indestrutível,

Carrega em suas máscaras as vestes

E o tambor cintilante do ditirambo,

A convocar à vida o vinho, o teatro,

A metamorfose e a loucura.



Eis que o texto colide suas linhas, sinuosas,

Com o fulgor raro de existências puras!



Onde o corpo estranho levou meu texto?

Que importa? Há em mim muitos, sempre outros!

O corpo some e soma-se ao meu trajeto

Eis que somos um, e somos todos!

Viemos aqui por um motivo e sabemo-lo:

Dizer o inaudito sobre os corpos libertos,

Sobre as possíveis revoluções do mundo.

Somos, talvez por toda a eternidade,

Um espelho controverso de duas figuras quebradas.



Dedico as plêiades dessas letras minúsculas

Aos seguidores do bardo coxeado Dioniso,

Aos coroados por seus adornos iniciáticos:

Na testa, o impulso de todos,

Os festivais em ramos de Eras!

No rosto, a metamorfose das máscaras,

A dissimulação e loucura como transcurso,

Um brinde às vivências totais!

Na boca, o fogo da flauta e dos vinhos,

A busca do ardente texto em arritmia marginal

Ao corpo em elipses revolucionárias de libertação!

E nos pés, os leopardos adormecidos,

O presente de poucos,

Designar o grande lobo – a Morte,

Não como finitude perigosa ou tenebrosa,

E sim como flerte ilustre de vida e de caos!



Aos atores e aos palhaços deslocados,

Aos vadios boêmios e aos músicos errantes,

Aos poetas marginais e aos revolucionários militantes,

Infinitos em possibilidades de epifanias indestrutíveis,

Dou-vos parte de mim e toda minha paixão!



(Caio Di Palma)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

SEMIOLOGIA INFANTIL

O único xingamento que o Gael, no esplendor de seus três aninhos, conhece é "bobo". Quando está chateado, chama, a quem está por perto, de bobo; eu converto logo o "palavrão" para "vovô". Antes-de-ontem, ouvi-o dizer "bobo" a Vitorinha, sua irmã de cinco anos. Ferida em sua feminilidade, ela retrucava: "Eu não sou menino. Eu não sou menino. Eu não sou menino".

ALENTO

Quando cheguei, ontem, bem cedo, à UFF, o primeiro aluno, que encontrei, disse-me, de chofre: "Venho à sua aula para me renovar".

segunda-feira, 24 de maio de 2010

CAMINHADAS RÚSTICAS

Adoro caminhar pelos fundos do meu bairro, Porto da Roça, onde posso pisar na terra e no barro, porque ainda há ruas não-alfastadas; aprecio, sobretudo, o silêncio das matas, o azulíssimo do céu e as crianças semi-nuas correndo contra a poeira. Lá uma vez ou outra passa um caminhão, mas faço ouvidos de mercador e sou só olhos e ouvidos para a natureza tropical, que me envolve.

ODEIO TELEVISÃO

Aonde quer que eu vá - barbeiro, restaurante, ante-sala de médico e dentista, guichê da 1001 -, há sempre um televisor ligado, obrigando-me a ouvir dublagens ou telenovelas (me recuso, terminantemente, a olhar o monstrengo). Quando chego, peço, educadamente, para, pelo menos, baixarem o som, porque quero ler, estudar, pensar; às vezes, até ameaço mudar de restaurante. Tenho conseguido criar algum silêncio nesses locais, mesmo se alguém me diz que os outros querem ver tv; digo: e por que não ficam em casa,onde é mais confortável?

JOAN BAEZ, THE HOUSE OF THE RISING SUN

http://www.youtube.com/watch?v=NkyYHYUcGgo&feature=related

JOAN BAEZ, FOR EVER YOUNG

http://www.youtube.com/watch?v=favgoOn-U1I

domingo, 23 de maio de 2010

FERNANDO FIORESE, POETA-ANFITRIÃO

Pela primeira vez, este ano, fui a Minas. Minas Gerais me falta: é uma lacuna na parede da memória. Fui a Juiz-de-Fora participar, a convite do Prof. Dr. Fernando Fiorese, de banca de mestrado, em que Frederico Spada Silva apresentava seu projeto de pesquisa da poesia de Hilda Hilst. Era um convite irrecusável, porque o anfitrião, além de ser excelente poeta, é meu colega de grupo de pesquisa sobre estéticas de fim-de-século. Teria eu a oportunidade de voltar a Minas, cuja paisagem me inspira. Já é belíssima a viagem Rio-Juiz-de-Fora, por conta da cadeia de montanhas de Petrópolis e das montanhas mineiras. Sabe acolher o povo mineiro. O presidente da banca mimou-me, levando-me para almoçar e para jantar: come-se muito, quase demais, em Minas Gerais. Ouvir bem de pertinho o cantante sotaque mineiro me faz muito bem, até porque me remete à minha remota infância, passada entre barrocas montanhas. Meu anjo-guardião, em Juiz-de-Fora, foi o próprio candidato a título de mestre: ele me recebeu na rodoviária e me conduziu à UFJF, bem como aos restaurantes. Exímio leitor de poesia, Frederico revelou-se um cavalheiro das montanhas. Fiquei impressionado com o número de jovens, que circulam naquela mineira cidade e a razão é que, com seus 500 mil habitantes, Juiz-de-Fora erigi-se, com suas 10 universidades, entre as quais uma Universidade Federal, uma cidade universitária. Com seu friozinho de altas altitudes, a cidade me acolheu e lá volto quinta-feira próxima a fim de palestrar em congresso internacional. Minas Gerais é, definitivamente, uma mina de cultura e cortesia.

sábado, 22 de maio de 2010

WALMIR AYALA, PRESENÇA POÉTICA

Na celebração do aniversário do pintor Nelsinho, que ocorreu, com gostosíssimo almoço, na Casa de Cultura Walmir Ayala, aqui em Saquarema, um dos convivas confundiu-me com Walmir Ayala. E esse senhor não havia ingerido álcool de espécie alguma, até porque só se serviu refrigerante. Mesmo me dando conta da confusão, dado que o Walmir já de há muito canta poemas entre os anjos, fiquei imensamente lisonjeado. Na noite seguinte, sonhei com o Walmir recitando poesia nos quatro cantos do Universo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

ELOÁ HAYAL

Chéri Latuf,


Optei pela obra "La préparation du roman I", porque gostaria de fazer algo ligado a minha pesquisa e às minhas questões com o japonês, creio que este livro, sobretudo no que tange aos haicais, será de grande valia para meu trabalho.
Estou verdadeiramente muito feliz por ter encontrado sua aula.
Je vous remercie, sage prof.
Gros bisous


Eloà

segunda-feira, 17 de maio de 2010

CONTRA A HOMOFOBIA

"As religiões com frequência contribuem para a homofobia", diz o pesquisador Louis-Georges Tin

Josyane Savigneau

O porta-voz do Conselho Representativo das Associações Negras (CRAN), Louis-Georges Tin, foi editor de um Dicionário da Homofobia (PUF, 2003).

Le Monde: Em 17 de maio, será realizada a 6ª edição do Dia Mundial Contra a Homofobia, que você criou. Não há uma multiplicação excessiva dessas datas anuais consagradas a este ou aquele tema da sociedade?

Tin: Acho que não. Essas datas permitem que a sociedade civil se aproprie da agenda política e introduza nela temáticas de certa forma negligenciadas por seus dirigentes. Elas respondem, portanto, a uma exigência democrática.

Le Monde: Como você decidiu, em 2005, propor esta data?

Tin: Propus esta data a inúmeras associações em todo o mundo, que acharam a ideia muito interessante e a adotaram. Eu também a propus às autoridades públicas, e depois ela foi reconhecida oficialmente pela União Europeia, pela França e por vários outros países.

Esta data foi escolhida porque foi no dia 17 de maio de 1990 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. É uma data internacional, positiva, que nos convida também a pedir que se faça pelos transsexuais no futuro o mesmo que foi feito pelos homossexuais no passado.

A França foi o primeiro país do mundo a retirar a transsexualidade da lista de doenças mentais, em 2009, durante o Dia Contra a Homofobia e a Transfobia, e esperamos que ela leve esta batalha para a OMS.

Le Monde: O que é feito nesta data?

Tin: Em mais de 60 países em todo o mundo, haverá conferências, exposições, festivais, ações nas ruas. Decisões políticas são tomadas. Na França, há mais de 150 eventos em mais de 40 cidades.

Le Monde: Em 2010, o tema será a “Homofobia e as Religiões”. O que vocês esperam obter das diversas autoridades religiosas?


Tin: As tradições religiosas com frequência contribuem para reforçar a homofobia, por isso escolhemos o tema. Este ano, não pedimos que os crentes e especialmente os responsáveis religiosos aprovem a homossexualidade mas, algo bem diferente, que desaprovem a homofobia. Principalmente quando se trata de violências cometidas em nome de um Deus, qualquer que seja. Não pretendemos entrar no terreno da teologia, que não é o nosso; pedimos aos teólogos que venham para o terreno dos direitos humanos, que concerne a todos nós.

Assim, na França, organizamos um colóquio na Assembleia Nacional, do qual participaram os representantes oficiais da Conferência dos Bispos da França, da Federação Protestante, do Grão-Rabinato, da Mesquita de Paris e da União Budista da França. Foi um evento totalmente inédito.

Nós redigimos, junto com a Igreja da França, uma oração universal pedindo o respeito à dignidade de cada um, por ocasião desta data. Para o Islã da França, é também uma ocasião histórica para abandonar o preconceito que quer que os muçulmanos sejam obrigatoriamente homofóbicos.

Le Monde: O que você pensa das declarações recentes de um cardeal que relacionou a pedofilia na Igreja à homossexualidade?

Tin: Ele só disse o que muitas pessoas homofóbicas, na Igreja ou fora dela, pensam normalmente. Por outro lado, a novidade foi o escândalo internacional que essas declarações suscitaram. Há alguns anos, quem teria se incomodado com isso além de alguns militantes? É sinal de que os tempos estão mudando. Está na hora do Vaticano se dar conta disso...

Le Monde: As ações homofóbicas estão aumentando na França?

Tin: Não há uma pesquisa global sobre o assunto. Nós temos os números da associação SOS-Homofobia, que estão aumentando. Mais é difícil de saber se isso significa um aumento da realidade homofóbica ou da propensão a denunciar essa realidade. Entretanto, muitas pessoas que deveriam denunciá-la ainda não o fazem, com medo de se expor à uma estigmatização social. Seriam necessárias mais pesquisas sobre a vitimização na França, para estabelecer com mais precisão o grau da violência homofóbica ou transfóbica.

Le Monde: Você compartilha da opinião daqueles que dizem que a recusa do casamento homossexual na França é uma homofobia do Estado?

Tin: Eu concordo. Acredito que houve um tempo, em certos países, em que os casamentos entre negros e brancos eram proibidos, isso não era racismo? Há países em que as mulheres não podem se casar como querem, isso é não é sexismo? Há países onde os homossexuais não podem se casar como querem. Acho que a conclusão é óbvia.

Le Monde: Em 2006, você dizia que 80 países ainda consideravam a homossexualidade um crime, isso ainda é assim?

Tin: E em sete países, principalmente no arco do Oriente Médio, a pena de morte é exigida contra os homossexuais, com base na sharia. Em 2006, lançamos um apelo “pela descriminalização universal da homossexualidade”. Esta petição foi amplamente apoiada por personalidades como Jacques Delors, artistas como Meryl Streep, prêmios Nobel como Desmond Tutu, Dario Fo, etc.

Nossa campanha resultou numa declaração à Assembleia Geral das Nações Unidas, apresentada por Rama Yade, em 2008. Mas trata-se apenas de uma declaração, um texto, simbólico, forte, mas sem valor de lei. É necessária uma resolução, e para isso nós devemos convencer mais Estados, obter uma maioria e uma decisão que em seguida deva ser aplicada.

Le Monde: Além das questões institucionais, como o casamento, como você avalia a situação social da homossexualidade na França hoje?

Tin: As coisas estão melhores. Dois terços dos franceses são favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Há cada vez mais ações no âmbito social, e algumas medidas importantes no âmbito governamental. Mas, principalmente para os jovens, a homofobia continua forte. Mesmo num ambiente racista, uma criança negra tem todas as chances de crescer numa família negra onde a sua “diferença” não é percebida como tal. Isso não existe para os jovens homossexuais, que em geral crescem em famílias heterossexuais.

Portanto, se são expostos à homofobia social, eles não necessariamente encontrarão dentro de sua família o apoio de que precisam. Muitos exemplos mostram que eles assumem um risco importante ao fazê-lo. Inúmeras famílias ainda rejeitam seus filhos quando eles revelam sua homossexualidade. Os jovens preferem, portanto, ficar no silêncio, o que é uma fonte de depressão, de aflição. Nos pátios das escolas, no mundo dos esportes, na vida cotidiana, os insultos homofóbicos ainda são frequentes, às vezes sem importância para aqueles que os fazem, mas muito duros para os que os recebem.

Le Monde: A França é um país de refúgio para os homossexuais perseguidos em suas nações?

Tin: Mais ou menos, mas é necessário levar em conta a situação reservada aos imigrantes. Os países mais abertos à homossexualidade não são necessariamente os mais abertos à imigração.

Nos encontramos recentemente com o gabinete de Eric Besson e esperamos medidas fortes para que os funcionários responsáveis pelo direito de asilo recebam uma melhor formação para acolher os refugiados perseguidos por conta de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero. Mas ainda não chegamos lá...



Tradução: Eloise De Vylder

domingo, 16 de maio de 2010

MAGNIFICAT

Magnificat (também conhecida como Canção de Maria) é um cântico entoado (ou recitado) frequentemente na liturgia dos serviços eclesiásticos cristãos. O texto do cântico vem diretamente do Evangelho segundo Lucas,[1] onde é recitado pela Virgem Maria na ocasião da Visitação de sua prima Isabel. Na narrativa, após Maria saudar Isabel, que está grávida com aquele que será conhecido como João Batista, a criança se mexe dentro do útero de Isabel. Quando esta louva Maria por sua fé, Maria entoa o Magnificat como resposta.

O cântico ecoa diversas passagens do Antigo Testamento, porém a alusão mais notável são as feitas à Canção de Ana, dos Livros de Samuel.[2] Juntamente com o Benedictus, e diversos outros cânticos do Antigo Testamento, o Magnificat foi incluído no Livro de Odes, uma antiga coletânea litúrgica encontrada em alguns manuscritos da Septuaginta.

No cristianismo, o Magnificat é recitado com mais frequência dentro da Liturgia das Horas. No cristianismo ocidental o Magnificat é mais cantado ou recitado durante o principal serviço vespertino: as Vésperas, no catolicismo romano, e a Oração Vespertina (Evening Prayer ou Evensong, em inglês), dentro do anglicanismo. No cristianismo oriental o Magnificat costuma ser cantado durante as Matinas de domingo. Em certos grupos protestantes o Magnificat pode ser cantado durante os serviços de culto.


Texto original em grego
Μεγαλύνει ἡ ψυχή μου τὸν Κύριον καὶ ἠγαλλίασε τὸ πνεῦμά μου ἐπὶ τῷ Θεῷ τῷ σωτῆρί μου,
ὅτι ἐπέβλεψεν ἐπὶ τὴν ταπείνωσιν τῆς δούλης αὐτοῦ. ἰδοὺ γὰρ ἀπὸ τοῦ νῦν μακαριοῦσί με πᾶσαι αἱ γενεαί.
ὅτι ἐποίησέ μοι μεγαλεῖα ὁ δυνατός καὶ ἅγιον τὸ ὄνομα αὐτοῦ, καὶ τὸ ἔλεος αὐτοῦ εἰς γενεὰς γενεῶν τοῖς φοβουμένοις αὐτόν.
Ἐποίησε κράτος ἐν βραχίονι αὐτοῦ, διεσκόρπισεν ὑπερηφάνους διανοίᾳ καρδίας αὐτῶν·
καθεῖλε δυνάστας ἀπὸ θρόνων καὶ ὕψωσε ταπεινούς, πεινῶντας ἐνέπλησεν ἀγαθῶν καὶ πλουτοῦντας ἐξαπέστειλε κενούς.
ἀντελάβετο Ἰσραὴλ παιδὸς αὐτοῦ, μνησθῆναι ἐλέους, καθὼς ἐλάλησε πρὸς τοὺς πατέρας ἡμῶν, τῷ Ἀβραὰμ καὶ τῷ σπέρματι αὐτοῦ εἰς τὸν αἰῶνα.


Texto original em latim

Schola Gregoriana - Antiphona e Magnificat Magnificat anima mea Dominum
Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Quia respexit humilitatem ancillæ suæ: ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.
Quia fecit mihi magna qui potens est, et sanctum nomen eius.
Et misericordia eius a progenie in progenies timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo, dispersit superbos mente cordis sui.
Deposuit potentes de sede et exaltavit humiles.
Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes,
Suscepit Israel puerum suum recordatus misericordiæ suæ,
Sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini eius in sæcula.

Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto
Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum.
Amen.


Tradução para português

Magnificat - O Cântico de Maria A minh'alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador
Pois Ele me contemplou na humildade da sua serva
Pois desde agora e para sempre me considerarão bem-aventurada
Pois o Poderoso me fez grandes coisas

Santo é Seu nome!

A Sua misericórdia se estende a toda a geração daqueles que o temem
Com o Seu braço agiu mui valorosamente
Dispersou os que no coração tem pensamentos soberbos
Derrubou dos seus tronos os poderosos

Exaltou os humildes, encheu de bens os famintos
despediu vazios os ricos
Amparou a Israel Seu servo para lembrar-se da Sua misericórdia
A favor de Abraão e sua descendência
Como havia falado a nossos pais.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.


Referências
1.↑ Lucas, 1:46-55
2.↑ 2 Samuel, 2:1-10.

Eis informações enciclopédicas. Para mim, "Magnificat" é o canto de minha infância em Mariana-MG, em cujo Seminário Menor nós o entoávamos a plenos pulmões. Com o tempo passando e eu me tornando céptico, cínico, talvez, incrédulo, quem sabe, ainda rezo esse salmo que me traz o frescor, o fervor e a fé de meus tempo de menino.

sábado, 15 de maio de 2010

A ANCIÃ INDIGNADA

Manuela, ou Manu, como é carinhosamente chamada pelos amigos, é uma senhora portuguesa, de 90 anos, pianista e ex-cantora lírica, que mora sozinha, aqui em Saquarema. Outro dia, ela tomou um ônibus para Mombaça, belo bairro saquaremense, e foi até ao final da linha; lá chegando, não desceu. Então, o trocador disse-lhe para saltar. Ela retrucou: "Quem é você para me dizer o que eu deva ou não fazer. Você está ganhando a vida, eu já a ganhei. Falo três línguas e você fala, mal e porcamente, uma só. Rodei o mundo e você nunca saiu de Bacaxá". Assim indignada, Manu não arredou pé do ônibus, que a devolveu, sã e salva, a seu lar, dulcíssimo lar.

FELICIDADE DE AVÔ

"Gael ainda está dormindo", disse-me sua mãe, e eu fui vê-lo em seu quarto: no berço, vi olhos se abrindo e braços abertos para mim, acompanhados por esta frase absolutamente feliz: "Eu quero você!"

A ÚLTIMA CANÇÃO

Escrevendo e lendo, coloco, agora, para girar o último "cd", que Mamãe me deu, no meu aniversário de 1996: ela faria sua santa passagem dia 4 de dezembro do mesmo ano. Chama-se "El Bosco" o "cd" e traz canções angelicais. Mamãe quis deixar-me com a música que ela iria ouvir por toda a eternidade e que eu ouviria na eternidade da saudade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

AOS POLÍTICOS SÓ INTERESSAM OS VOTOS

Se os políticos de Saquarema andassem de ônibus, dar-se-iam conta da verdadeira opinião do povo sobre seu governo que, pelas conversas nos pontos-de-ônibus, tem dois calcanhares da Aquiles, o transporte público, péssimo e caríssimo, e o sistema de saúde, mais do que precário. Mas os políticos não tomam ônibus e, quiçá, tampouco estão interessados em tomar a pulsação do que o povo realmente pensa e sente.

NELSINHO, PINTOR E PROFESSOR

Ontem, foi o aniversário do pintor Nelson dos Santos, o tão querido Nelsinho; mas, como ele estava dando aulas de pintura em Rio Bonito, foi hoje, na Casa de Cultura Walmir Ayala, a celebração da data, com um gostosissimo almoço preparado por seus alunos e colegas. Mais uma vez comprovou-se o quão amado é o Nelsinho, memória viva de Saquarema. Fiquei honradíssimo em ter sido convidado, até porque ele é o meu mais antigo amigo saquaremense e um verdadeiro mestre, com quem aprendo sempre, sobretudo sobre a alegria de viver.

IRMÃO MESMO

Já o outro libanês, que mora aqui em Saquarema, Elias, dono do restaurante "Rei do quibe", teve uma reação completamente diferente da do libanês, proprietário do maior supermercado daqui, quando lhe anunciei que fora convidado para a recepção, no Rio de Janerio, do presidente do Líbano. Com aquele seu sorriso, que seduz a todos, Elias me repetiu três vezes: "Você merece, você merece, você merece!"

quarta-feira, 12 de maio de 2010

JOEL CARDOSO & NELSON RODRIGUES

Ontem fui a São Paulo a fim de participar do lançamento do livro "Nelson Rodrigues, da palavra à imagem", de Joel Cardoso, professor da UFPA. Tomei um prosaico ônibus, mas muito confortável. O evento ocorreu na belíssima Casa das Rosas, edificação "Belle Époque", em plena Avenida Paulista. Serviu-se um requintado coquetel e os presentes, além dos amáveis familiares do autor, eram professores da UFPA, da USP, desembargadores, advogados,empresários, enfim uma seleta companhia. Fiz questão de estar presente, não só porque sou amigo antigo do Joel, como por ter tido a honra de prefaciar o livro em questão. Em São Paulo, pude vivenciar, no espaço de um dia, o ambiente popularíssimo da rodoviária, que é uma cidade, e o ambiente sofisticado da Casa das Rosas, poderoso centro cultural. No meio de tudo isso, a arte, que Nelson Rodrigues soube criar na literatura, traduzida para o cinema e para o teatro.

domingo, 9 de maio de 2010

AFORISMOS

Escrever é (re)descobrir.
Ler é (re)descobrir.

JUAN ARIAS, GENRO DE BERTHA KLIGERMAN

Gracias, hermano Latuf por ese requiem filial de Bertha, que nos dió el ejemplo de poner fin a su larga y rica vida, de puntillas, sin molestar, apagándose como una vela aquí para seguir iluminado en el misterio del más allá.
Roseana y Evelyn van a estar felices con tu epitafio y tu cariño.

Amém. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Amém (português brasileiro) ou Amén (português europeu) (Hebraico: אָמֵן, Árabe: آمين, ’Āmīn) é a palavra hebraica que indica uma afirmação ou adesão às vezes matizada de desejo, e pela qual terminam muitas orações no Cristianismo, no Islamismo e no Judaísmo. Pode traduzir-se em português, pelas expressões "assim seja", "verdadeiramente" etc, ainda que Amém seja um anagrama da frase hebraica “Ani Maamim” que a tradução literal para a língua portuguesa é “Eu Acredito”. Tendo também adquirido como o passar do tempo o significado na vulgata popular de concordância de pensamento ou sinônimo de expressão em relação à esperança futura como por ex. "Que assim seja".

Amen, além destes significados ja descritos, também vem a ser uma sigla. A palavra é composta de 3 letras em hebraico: אָמֵן Esta sigla sintetiza a frase " Deus, Rei, Fiel", que em hebraico se lê El Melech Neeman. Ou seja EMN, que pode ser escrita em hebraico com as mesmas letras de amem. Esta palavra é de força incalculavel durante as orações judaicas, e é cobrada como parte essencial na resposta da comunidade durante o rito diario.

REQUIEM PARA BERTHA KLIGERMAN

Quinta-feira passada, Roseana Murray, "minha mais nova amiga de berçário", telefonou-me, convidando-me para almoçar em sua casa no dia das mães. Já, de há muito, nomeei-a minha "Idish Mamma" e, como tal, nos temos comportado, embora eu seja muito mais velho do que ela. Para o evento, preparei-me todo: vestiria linho, dos pés à cabeça, lembrando-me de outra amiga que diz que um homem elegante se reconhece porque usa roupas de linho. Na sexta-feira, Roseana me ligou, dizendo que o almoço fora antecipado para o sábado, porque ela deveria ir ao Rio ver sua mãe, internada em hospital. Como sempre, fui ler o "blog" de minha amiga-anfitriã e chorei ao ler sobre a agonia de sua mãe, cujo pulso já estava parado. No texto postado, a escritora dizia que as últimas palavras que a progenitora lhe dirijira foram: "Você está tão bonita!" Telefonei imediatamente à Roseana que me assegurou que a paela, feita por seu marido, Juan Arias, estava sendo preparada. Não querendo incomodar, num momento familiar tão delicado, o Juan, perguntei-lhe, por telefone, se minha presença não seria inconveniente. Ele insistiu que eu fosse almoçar em sua casa. Lá, brindamos, com vinho tinto espanhol, à Roseana e à sua mãe, que se apagava como uma vela e que, sem seus 89 anos, fora uma fogueira de amor maternal. Hoje, pela manhã, telefonei à Roseana a fim de saber como passara a noite e ela me deu a notícia de que sua mãe, ao lado das duas filhas, "fizera uma bela passagem". Com toda delicadeza, Bertha antecipara a partida para não marcar funebremente o "dia das mães". Lembrei-me de minha tia Laia que, para não me deixar triste no dia do meu aniversário, falecera dia 6 de setembro, véspera da comemoração do meu nascimento.Imediatamente, recapitulei todos os momentos da longa doença de Bertha, que foi assistida totalmente por sua irmã Alice e pelo carinho estremoso das filhas. Roseana e Evelynm são filhas exemplares, que deram à mãe toda a assistência possível, prolongando-lhe, com alegria, a existência. Guardo de Bertha as melhores lembranças e lições. Foi uma sábia. No meio de sua doença, que lhe consumia o corpo franzino, tinha sempre um sorriso e uma palavra oracular. Ela era só espírito de luz, iluminando a seu redor e a posteridade. Sinto-me parte dessa família amorosa e minhas lágrimas são de tristeza pela perda, mas também de alegria por ter conhecido, embora por pouco tempo, a Bertha Kligerman, figura ímpar e memorável. Parafraseio-a dizendo: "Roseana é bela".

sábado, 8 de maio de 2010

PESADELO VS SONHO

Desde menino, e lá se vão várias décadas, tenho um pesadelo recorrente: não sei a matéria da prova. Noite passada, o pesadelo retornou, mas como o de um professor que não preparara sua aula. Acordar de tais pesadelos é sempre um grande alívio. Quanto ao primeiro pesadelo, creditou-o à minha obsessão em querer ser, sempre, primeiro aluno; já no que tange ao pesadelo da noite anterior, tenho-o reiteradamente desde que virei professor e me esmero em ser, pelo menos, um bom professor. Como os carnavalescos que preparam os desfiles de suas escolas apenas termina um desfile anual, começo a preparar minhas aulas hebdomadárias desde que se encerram a cada terça-feira e quinta-feira. Defintivamente, adoro minitrar aulas e já me preparo para a minha iminente aposentadoria, quando não mais terei, diretamente, alunos da UFF. Congregarei alunos virtuais, ensinarei ao Guto, meu cão, farei de mim mesmo meu mais obsessivo aluno. Três décadas de magistério terão servido para muita coisa.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

PRECE SIOUX DAS 4 DIREÇÕES

“Ó nosso Pai Céu, ouça-nos e faça-nos fortes.
Ó nossa Mãe Terra, ouça-nos e dê-nos apoio.
Ó Espírito do Leste, envie-nos sua sabedoria,
Ó Espírito do Sul, que possamos trilhar seu caminho de vida,
Ó Espírito do Oeste, que estejamos preparados para a longa jornada,
Ó Espírito do Norte, limpe-nos com seus ventos purificadores".

LUCAS GARCIA NUNES, O ILUMINADO

Ao final da gloriosíssima aula de "Fundamentos da Literatura", quando meus aluninhos demonstraram imensa criatividade, ousadia e bom-humor ao apresentarem encenações, totalmente originais, sobre a intertextualidade em suas formas de paráfrase e paródia, Lucas, um dos protagonistas, chegou-se a mim e me disse: "Professor, a partir de suas aulas, vamos montar uma Trupe da alegria, que levará espetáculos a hospitais, orfanatos e à rua". Por me saber cauador de projetos e sonhos, senti-me pleno.

PENSADOR MINEIRO

"Professor é aquele que ensina. Educador, o que aprende".

NOTURNO DE BELO HORIZONTE (fragmento), MÁRIO DE ANDRADE

Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
Que tem se o quinhentos réis meridional
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas,
Brasil, nome de vegetal...

VITÓRIA SHERAZADE LATIFA, ABSOLUTA

Desde alguns dias, tenho, em minha sala de banho, uma balança, que ganhei numa compra efetuada via televisão. Não gosto de me pesar, porque sempre me acredito gordo. Inda há pouco, Vitorinha subiu na balança e lhe perguntei: quantos quilos você está pesando, Vitorinha? E ela, do alto de sua esbelteza, me respondeu bem zen: "Estou crescendo".

JULIANA RAMOS, PROFESSORA E PRODUTORA CULTURAL, Canção de Ninar os Deuses

Lá vem...lá vem...lá vem...
O Deus do Sol, o Astro Rei!
Iluminando corações,
Sorrindo canções,
Exibindo as emoções e os olhos.

É ele, com toque de Minerva
Mãos de Midas...
Espalhando amor aonde vai
Manchando as almas de carnavais...

Lá vai...lá vai...lá vai...
Latuf...Deus da Paz!
Lá vai...lá vai...lá vai...
Um Rei, um Pai!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SAQUAREMA, JUAN ARIAS. TRADUÇÃO LIVRE MINHA

Tu nombre blanco, de plata, Teu nome branco, de prata,
lo inventaron las sirenas inventaram-no as sereias
una noche de cristal, numa noite de cristal,
cuando viejos marineros quando velhos marinheiros
se jugaban la luna y el mar. brincavam com a lua e o mar.

La virgen niña de Nazareth A virgem-menina de Nazaré
se enamoró de tu luz. enamorou-se de tua luz.
Llegó surcando los cielos Chegou sulcando os céus,
desde su aldea bendita vindo de uma aldeia bendita
de apóstoles y profetas, de apóstolos e de profetas,
manos preñadas de sol. com as mãos prenhes de sol.

Tu nombre de música azul Teu nome de música azul
evoca viejas raices, pájaros, evoca velhas raízes, pássaros,
pueblos llegados de lejos, povos chegados de longe,
arrastrados por la mar, arrastados pelo mar,
sus manos llenas de paz. com mãos cheias de paz.

Los gavilanes planean Os gaviões planam
sobre tus playas y plazas sobre tuas praias e praças
trazando con sus volteretas traçando com seus volteios
la música de tus amores, a música de teus amores
para que dancen desnudas para que dancem desnudas
las diosas del horizonte. as deusas do horizonte.

De dia eres clara centella, De dia, és clara centella,
tus tardes tuas tardes,
oro de girasoles. ouro de girassóis.
Las garzas de nieve de tu lago As garças de neve de teu lago
vigilan silenciosas y etéreas vigiam silenciosas e etéreas
el abismo de tus noches. o abismo de tuas noites.

Tus gentes humildes de aldea Tua gente humilde de aldeia,
dulce de miel y guayaba, doce de mel e goiaba,
tus pescadores, teus pescadores,
el silencio denso de las redes o silêncio denso das redes
en un mar de noches doradas. num mar de noites douradas.

Tus mujeres, Tuas mulheres,
vestidas de espuma vestidas de espuma,
perfumadas de romero. perfumadas de alecrim.
Tus niños y niñas, Teus meninos e meninas,
jilgueros enamorados, pintassilgos enamorados,
danzan con el viento dançam com o vento,
jugando con las estrellas, brincando com as estrelas,
Son esperanza alada. são esperança alada.

Saquarema, Saquarema,
tu nombre blanco, de plata, teu nome branco, de prata,
deja que yo te ame, deixa que eu te ame,
deja que yo te cante. deixa que eu te cante.

AMÉM, DE COSTA-GRAVAS

"Amém" (2002), de Costa-Gravas, não é apenas mais um filme sobre nazismo, que exterminou judeus, ciganos, deficientes físicos e homossexuais, tema abordadíssimo, no cinema contemporâneo, sobretudo quanto ao genocídio judaico. "Amém" filma a consciência, com seus dramas, mas, principalment, expõe, com imagens e interstícios, o silêncio da Igreja Católica com relação ao extermínio de milhões de judeus, praticado por Hitler. Não se apresentam torturas nem os horrores, que ficam subtendidos, através, por exemplo, do buraco de uma fechadura e, constantemente, por um trem, que atravessa, em alta velocidade, a tela inteira e que solta uma fumaça negra: aquele trem intempestivo vai para os campos de concentração. Há uma cumplicidade, velada e revelada pelo filme. Apenas um padre - um jesuíta -, justamente uma sociedade, considerada a mais arrojada, dentro do Catolicismo, que ousa enfrentar o Vaticano e expõe a Pio XII (nada piedoso)a tragédia que está acontecendo. A estrela de Davi, pregada na batina preta do Pe. Riccardo Fontana, simboliza uma reconciliação, talvez impossível, mas, quem sabe, sonhada. A palavra "Amém", da liturgia católica, é pronunciada por esse padre-herói, que não se resigna com os horrores nazistas, mas suplica misericórdia a Deus; é uma releitura do "Pai, pai, por que me abandonaste", gritado por Cristo, na cruz. No filme, a cruz é estrelada.

MANIA DE MOCHILAS

Foi meu amigo Juan Arias quem chamou minha atenção para o grande número de mochilas que tenho. Com efeito, vou colecionando mochilas, bolsas, malas, que considero um acessório fundamental, combinando com minha roupa e meu humor. Tenho-as de todos os tipos, cores e formatos e gosto de carregá-las como uma extensão de meu corpo. A mais recente mochila que comprei é uma "Nike", azul-bebê, que se carrega de maneira atravessada e tem vários compartimentos (noto que, na China, de onde vêm essas mochilas, gostam de bolsinhos dentro da mochila). Acabo, também, de adquirir uma bolsa, que usarei na minha próxima viagem a São Paulo para o lançamento do livro sobre Nelson Rodrigues, de meu querido Joel Cardoso, lá da UFPA. Vi, na vitrine, aqui em Saquarema, essa bolsa que, logo, me quis: é toda grafitada, com cores alucinantes, cítricas, bantaste carnavalesca, o que quebrará a talvez sisudez de minha indumentária para a Casa das Rosas, na Avenida Paulista.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

CENA COTIDIANA

Estendida na corda para secar ao sol do quintal, aquela blusa amarela, de mangas longas, figura um maestro, regendo as outras roupas, que bailam à música do vento.

domingo, 2 de maio de 2010

RAPSÓDIA BRASILEIRA

Na abertura do jogo final do campeonato paulista de futebol, a Orquestra Filarmônica Bachianas executou o Hino Nacional como uma rapsódia, reestruturando os vários ritmos brasileiros. A emoção chegou ao ápice quando o poema épico brasileiro assumiu o samba e os milhares de torcedores dançaram ao som do Hino Nacional.

TERRY EAGLETON, TEORIA DA LITERATURA

"Escrever parece ser um ato que me rouba de meu ser: é um modo de comunicação alternativo, uma transcrição pálida e mecânica da fala e, portanto, sempre a uma certa distância da minha consciência. É por isso que a tradição filosófica ocidental, de Platão a Lévi-Strauss, sempre criticou a escrita como uma forma de expressão sem vida, alienada, e sempre elogiou a voz viva. Atrás desse preconceito está uma visão específica do 'homem': o homem é capaz de criar espontaneamente e de expressar suas próprias significações, de estar em plena posse de si mesmo, e de dominar a linguagem como um veículo transparente de seu ser mais íntimo. O que essa teoria não percebe é que a 'voz viva' é, na verdade, tão material quanto a palavra impressa; e já que os signos falados , da mesma maneira que os escritos, só funcionam por um processo de diferenciação e divisão, a fala pode ser considerada uma forma de escrita, tanto quanto se pode dizer que a escrita é uma fala alternativa". Tradução Waltensir Dutra, p. 141.

sábado, 1 de maio de 2010

O MEU JARDIM PÚBLICO

Foram cerca de três meses para o asfaltamento de minha rua, que se chama travessa, um período de barulho, poeira e angústia minha por não poder mais pisar o barro e sentir a chuva impregnada no solo. É o progresso, dizem todos, mas, para mim, é a caça de votos através do vertiginoso asfaltamento. Felizmente, consegui salvar do asfalto o trecho em frente ao muro de minha casa, em cujo terreninho plantei bromélias; duas bromélias floresceram logo logo e foram roubadas. Agora, as outras bromélias começam a florir e espero que não me abandonem. Hoje, ganhei da Roseana Murray uma muda da palmeira sagüá, que será mais uma conquista contra o asfalto e a favor do verde.

ROCÍO, ROCÍO, ROCÍO

Ontem, foi o aniversário de Rocío, minha sobrinhazinha argentina, a quem chamo de rainha andina, tão bela é ela. Quando, ao telefone, ela me disse literalmente: "Te extraño mucho", eu quase morri de saudades e tive uma vontade imensa de pegar um avião e ir direto a Salta, no Norte da Argentina, para abraçar e beijar essa menina, que nasceu sábia.

PROVOCAÇÃO DE IRMÃO

Hoje bem cedo, fui ao supermercado, aqui perto de casa, cujo proprietário é um libanês, vindo de Bzebedine-El Matn, mesma aldeia de meu pai. Reencontrando o Bassan, mostrei-lhe a imagem do cedro do Líbano que envergo em meu peito e disse-lhe que fora presente do presidente do Líbano com quem estivera, domingo passado, em recepção, no clube Monte Líbano, no Rio. Ele ficou furioso, esbravejando e me perguntando por que ele, libanês de sangue, não fora convidado para ver o presidente libanês e por que eu fora escolhido. Respondi-lhe que tinha recebido, por sedex, convite do consulado do Líbano, que recebera meu "curriculum vitae", vertido para o árabe. Diante de sua patriota revolta, afirmei-lhe que recepções de presidentes não são supermercados, onde todo mundo entra. Então, ele esboçou um sorriso fraterno. Agora, meu querido leitor virtual, cumpre-me informar que a medalha com o cedro me foi dada, há três anso, por Berta Antunes, excelente joalheira, amiga e ex-orientanda de mestrado em Ciência da Arte. Usei-a para provocar Bassan e a mentira funcionou até porque ele admirou muitíssimo a obra-de-arte. Outra informação: eu também sou "libanês de sangue", mesmo que gloriosamente misturado com o sangue caboclo de mamãe.

DO MESTRE, COM CARINHO

Quinta-feira passada, quando eu chegava, bem cedinho, ao "campus" do IACS (Instituto de Artes e Comunicação Social, da UFF), onde atuo (ministro aulas, igualmente, no "campus" do Gragoatá), fui abordado por um aluno, que, de chofre, me disse: "Muito obrigado, professor, pelo belo presente de aniversário que me deu". Diante de minha surpresa, explicou-me que, na quinta-feira anterior, ele aniversariava e tivemos uma belíssima aula de "Ética & Estética", disciplina de que sou, há muito, titular. Esse jovem chama-se Richardson (por ora, ainda não me lembro de seu sobrenome, apenas do apelido, Ricky) foi meu melhor aluno no semestre passado, cursando a disciplina "Fundamentos da Literatura", em que se revelou, tanto ética quanto esteticamente verdadeiro artist. Jamais esquecerei o amplo sorriso dele ao me agradecer o insupeito presente de um aniversário não anunciado.